Trans-BORDADOS

Ando, já há algum tempo, pensando em "transbordar" também na forma de saias e afins... aliás, até o termo trans-bordar parece contribuir para esta idéia...

Depois de todo aquele gnocchi, ontem foi uma manhã de garimpo na 25 atrás de tecidos mil (imagina a minha alegria!!) e uma tarde de "corte e costura" - e cantoria!!!

- E "hoje eu não saio de mim nem pra pescar!" (Manoel de Barros)

Gnocchi da Fortuna

Dia 29 rolou o gnocchi da fortuna lá na casa da vóvi...

Total farra, fazendo cobrinhas, tomando cervejas, rindo, rindo, rindo...
Os pratos pintados na noite do Risoto sairam dos armários, depois de tanto tempo sem eventos gastronômicos...







E, obviamente, sairam também do armário todas as estórias do último gnocchi da fortuna, em Janeiro de 2002...

Com tantos revivals, vieram parar aqui não só as fotos deste evento, mas tb desses outros momentos, tão delícia, que lembramos tanto...
Como foi tudo tirado no "old fashion way" precisei scannear, maior trabalheira...
Mas, com tantos amigos longe, achei que valia a pena...

Gui, Zé, Clarice, Cê, Marta, Jana... saudade de vocês!!!

(E pensar que neste primeiro gnocchi, a Cê nem sabia que a Annabelle já estava na barriga dela.. e agora já tem até o Arthur por ai!!) ...

Saudade da Terra

Hoje é dia do Agricultor.
Saudade de Jacaré dos Homens, saudade das comunidades rurais onde trabalhei, saudade.

Queria colocar aqui algum texto que escancarasse a beleza dessa luta diária, debaixo do sol, esperando a chuva, essa relação com a terra mãe, como diria o Marcos... esse "afagar a terra" e "fecundar o chão"...

Mas... estou nostálgica, com saudade dessa proximidade com a terra, questionando quando em vez meus rumos e... fato é que, desde que resolvi colocar aqui esta foto (tirada no Garrote, a caminho de uma sala de aula no Poção, Jacaré dos Homens) essa música do Gil e o poema do Manoel de Barros insistem em ocupar meus pensamentos...
não consigo definir se é pelo abandono que a foto emana ou se por eu ter meio que abandonado (temporariamente, como eu gosto de acreditar) aquela parte de mim que almejava ter "implicações na emancipação do homem"...

Queremos saber,
O que vão fazer
Com as novas invenções(...)
e suas implicações
Na emancipação do homem
Das grandes populações
Homens pobres das cidades
Das estepes dos sertões...
(Gilberto Gil)

Aprendo com abelhas do que com aeroplanos
É um olhar para baixo que eu nasci tendo
É um olhar para o ser menor,
para o insignificante que eu me criei tendo.
O ser que na sociedade é chutado como uma barata
cresce de importância para o meu olho.
Ainda não entendi por que herdei esse olhar para baixo.
Sempre imagino que venha de ancestralidades machucadas.
Fui criado no mato e aprendi a gostar das coisinhas do chão
Antes que das coisas celestiais.
Pessoas pertencidas de abandono me comovem:
tanto quanto as soberbas coisas ínfimas.
- Manoel de Barros -

Tigre y Paloma

El poeta pide a su amor que le escriba
Federico Garcia Lorca

Amor de mis entrañas, viva muerte,
en vano espero tu palabra escrita
y pienso, con la flor que se marchita,
que si vivo sin mí quiero perderte.

El aire es inmortal. La piedra inerte
Ni conoce la sombra ni la evita.
Corazón interior no necesita
la miel helada que la luna vierte.

Pero yo te sufrí. Rasgué mis venas,
tigre y paloma, sobre tu cintura
en duelo de mordiscos y azucenas.

Llena, pues, de palabras mi locura
o déjame vivir en mi serena
noche del alma para siempre oscura.

ensaio para uma conversa

Depois continuo a contar para mim mesmo,
como se fosse ao mesmo tempo o velho que conta e a criança que escuta,
sentado no colo de mim.

Caio Fernando Abreu

Mais um casamento à vista!!

Reuniãozinha lá na Carol - para colocar conversas em dia e rever/ escolher fotos para o casamento da Mari e do Rodrigo.

E já que estamos falando em casamento, resolvi colocar a foto da mulherada no casamento da Ana Flávia, que foi dia 14 de Junho - cerimônia linda e festa divertidíssima, com direito até à quadrilha!!
Enfim - delícia, delícia resgatar as pessoas do Rio Branco, tão queridas...

Viagem em roda de mim

Ando procurando um poema para minhas sobrinhas, Gabriela e Carolina, que nasceram há 10 dias... Acabei encontrando este, da Adélia Prado, que parece tão feito para mim que veio parar aqui...


Primeira Infância

Era rosa, era malva, era leite,
as amigas de minha mãe vaticinando:
vai ser muito feliz, vai ser muito famosa
Eram rendas, pano branco, estrela dalva,
benza-te a cruz, no ouvido, na testa.
Sobre tua boca e teus olhos
o nome da Trindade te proteja.
Em ponto marca no vestidinho: navios.
Todos à vela. A viagem que eu faria
em roda de mim.

Caso haja alguma dúvida, essa aqui do lado sou eu,
com uns 3 anos, lá no sítio...

atendendo a pedidos...

Eu sou retardada mesmo!!
Essa foto foi tirada na festa Junina da Ju e da Tati, dia 25 de Junho, se não me falha a memória...
Estava frio, muito frio e fui procurar uns casacos no armário da Ju... De repente, vejo uma coisa de pelúcia malhada... obviamente, assim que percebi ser uma fantasia de vaca, tinha que experimentar... uma vez vestida, simplesmente tinha que tirar uma foto... e, como a máquina não estava comigo, tive que andar pela festa assim... Mico, mico total!!
Dai veio todo mundo querer tirar foto junto... me senti o próprio Mickey na Disney...

Enfim - dêem risadas e... sem comentários pejorativos, beleza?

quem me navega é o mar...

Lutei toda a minha vida contra a tendência ao devaneio,
sempre sem jamais deixar que ele me levasse até as últimas águas. Mas o esforço de nadar contra a a doce corrente tira parte de minha força vital.
E, se lutando contra o devaneio, ganho no domínio da ação,
perco interiormente uma coisa muito suave de se ser e que nada substitui.
Mas um dia ainda hei de ir, sem me importar para onde o ir me levará.
Clarice Linspector

--> Será que eu consigo confiar, assim, na vida?

(Até porque, no fim do dia, apesar de a gente querer acreditar em outra coisa, "não sou em quem me navega, quem me navega é o mar" - como bem diz Paulinho da Viola...)

Segundas Intenções

Outra feliz re-apropriação!
(aliás, tenho me sentido meio cachorro (re)marcando seu território...)

Foi particularmente bom: o show, a balada depois, o depois do depois...
Os atores/ cantores se esmeraram na escolha das músicas - só temas de novelas - hilário!!! Ou seja, a balada começou durante o próprio show...
Dancei, dancei, dancei...! Eu realmente adoro esta baladinha! ...

Fim de semana mais que perfeito

Vou registrar aqui, meio "laundry list" e depois elaboro um pouco mais sobre este final de semana, inesperadamente perfeito!!!

- Sexta feira, saindo do trabalho, encontro a Ana sentada na "sala de estar" boteco na rua, alí pertinho do Beco... muitas cervejas, pinguinha de Parati, fotos engraçadas, conversas em dia e risadas mil...
- Sábado - passeio no parque, dança afro, churrasco na Bio com ensaio de marchinhas e tudo, mil pessoas queridas, Cirandeiros de Parati no Cachuera!, balada no All Black...
- Domingo - manha+ almoço budista com a Suzy, mais Cirandeiros de Parati ( porque dançar Ciranda nunca é demais!!!), show da Roberta Sá no Sesc Vila Mariana

Além disso, sei lá como deu tempo, "Closer" e "Como tudo na vida" - porque cinema também nunca é demais - principalmente com Woody Alen no meio...

E eu definitivamente amo meus amigos...

Meu aniversário!!

Foram mais de 70 pessoas, super delícia tudo!!

Meus amigos são mesmo muito queridos e tornaram este aniversário simplesmente fantástico!!!!

O lugar - Tocador de Bolacha - é muito fofo mesmo, a música ótima, meus amigos, de novo, de novo, perfeitos!!

Ficam aqui algumas fotinhos, ficam para depois as estórias...




Mais fotos...

...

Quando bater no coração
4 batidas e depois um BIS
Pode escrever, não falha não,
É a tentação de ser muito feliz

José Miguel Wisnik

Esperar pela alma

Quando se corre muito, há que para e esperar pela alma.
Índios Guarany (ou, segundo a Gi, Alain de Botton)

(ou , talvez, correr ainda mais e mais rápido...)

canto para uma semente

A menina, a gaiola e a Bicicleta
Rubem Alves

Olhem para o menino.
Ele está feliz.
Ganhou uma bicicleta.
Era seu maior desejo.
É a primeira vez que monta numa.
Ainda não sabe andar direito.
Mas não importa.
Uma vez tem que ser a primeira.
O menino ama a menina.
Convidou-s para passear com ele de bicicleta.
Ela aceitou, com uma condição: queria levar consigo o seu pássaro, dentro de uma gaiola enorme.
O menino preferia que ela fosse sozinha com ele.
Ficou triste. Mas concordou.
A gaiola era grande demais.
Não cabia na bicicleta.
A menina teve que de fazer o passeio olhando para trás.
Quem carrega gaiolas, olha sempre para trás.
O menino olhava para a frente.
Olhando para trás, a menina não podia ver as mesmas coisas que o menino via.
A bicicleta ficou com dó do pássaro. Pensou que morreria de tristeza se alguém a prendesse numa gaiola.
Resolveu ajudá-lo.
Aproveitando-se do fato de que o menino ainda não sabia andar direito, virou o guidão, endureceu o freio e fio bater direto numa árvore.
Tudo se esparramou pelo chão.
O menino caiu.
A menina caiu.
A gaiola caiu.
O que estava grudado desgrudou.
O que estava amarrado desamarrou.
O que estava desembrulhado desembrulhou.
A porta da gaiola se abriu e o pássaro saiu.
Saiu e parou. Não voou.
Queria ter certeza de que a menina e o menino estavam bem.
Cantou, então, para eles, o canto da despedida e voou.
A menina ficou triste porque o pássaro se foi.
Mas era preciso consertar a bicicleta e continuar o passeio.
Ela e o menino trabalharam muito e a bicicleta ficou como nova.
Mas nem a menina, nem o menino sabiam que, quando uma gaiola é aberta,
as borboletas saem dos casulos que os prendem e se põe a voar.
Borboletas, milhares de borboletas,
de todas as formas, cores e tamanhos começaram a seguir o menino, a menina e a bicicleta.
Eles tinham estado dormindo na árvore e acordaram com o canto do pássaro.
Agora o menino, a menina, a bicicleta pareciam um cometa, com uma longa cauda colorida de borboletas.
É isso que é o arco íris.
Sem a gaiola para atrapalhar, a menina abraçou o menino.
Um menino abraçado é melhor que um pássaro engaiolado.
Abraçados, os dois olhavam para a frente.
Conversavam sobre as coisas bonitas que viam.
O menino ficou feliz.
A menina ficou feliz.
A bicicleta ficou feliz.
Quanto ao pássaro, foi transformado num anjo, com a missão de proteger o menino, a menina e a bicicleta,
guardando os seus caminhos, os desvios, as trilhas e até mesmo as forquilhas onde os fantasmas fazem amor.

E fica aqui o própósito para este novo ano: carregar menos gaiolas para parar de olhar para trás e voltar a abraçar, sem medo, os mocinhos (rsrsrs) ...
sem contar nesse monte de borboletas que eu quero ter sempre, sempre perto de mim...

PS.: Andaram perguntando de onde saiu essa ilustração fantástica... O "canto para una semilla" é a capa de um disco da Violeta Parra... obviamente, apresentada pelo Marcos... Ando querendo tatuar essa imagem em mim, agora que "roubaram meu saci"... será que consigo um jeito de ficar tão bonito em mim quanto na ilustração?

Faxina ou "O fim do muro das lamentações"

Eu tinha me proposto a fazer uma mega faxina antes do meu aniversário - objetivo claro de começar esse ano novo de alma limpa, sem rancores, sem pesares, sem culpas...
Que delícia perceber que eu não preciso da faxina para começar o ano assim. Aliás, que delícia perceber que eu já voltei a viver assim, sem nem me dar conta...
Me sinta até no direito de me re-apropriar desse trechinho do Guimarães que eu gosto tanto e que está voltando a fazer sentido...

E as coisas vinham docemente de repente
seguindo harmonia prévia, benfazeja,
em movimento concordantes:
as satisfações antes da consciência das necessidades.

- Guimarães Rosa -

E amanhã é meu aniversário...

...que não me coube não me viu raiz...

Nós Dois
Celso Adolfo

E nos que nem sabemos quanto nos queremos
Que nem sabemos tudo que queremos ,
Como é difícil o desejo de amar
Você que nunca soube o quanto eu quis
Que não me coube , não me viu raiz ,
Nascendo , crescendo nos terrenos seus
Eu da janela olhando a lua , perguntando a lua
Onde vc foi amar ?
E nós que nem soubemos nos querer de vez
Estamos sós laçados em dois nós
(...)
Queria que assim sabendo se a gente se quer
Queria me rimar no teu colo mulher
Vencer a vida como ela vier
Ganhar o seu chegar no chegar meu
Dar de mim o homem que é seu

Perguntas

Perguntinhas aleatórias, com entrelinhas, sem entrelinhas...
todas do "Livro das Perguntas" do Neruda...

É verdade que a esperança
se deve regar com orvalho?

Por que se suicidam as folhas
quando se sentem amarelas?

As lágrimas que não se choram
esperam em pequenos lagos?
Ou serão rios invisíveis
que escorrem até a tristeza?

Sofre mais o que espera sempre
que aquele que nunca esperou ninguém?

Por que andamos tanto tempo
crescendo para separar-nos?

E, para terminar:

Quem colocou entre nós esses parênteses?
(Alice Ruiz e Itamar Assunção)

(E porque tantos parênteses neste mundo, quando a gente menos espera, sempre?????)

A volta dos mortos vivos

Como diz minha avó... "Quanto mais eu rezo, mais assombração me aparece..."

Não é que, a esta altura do campeonato, resolve pipocar um E-mail do Venezuelano do avião "querendo muito saber o que aconteceu na minha vida neste último ano e se eu tenho planos para ir para a Venezuela"? (sem ânimo para contar a estória toda... para entender meu pânico, basta dizer que quase deixei que ele fosse minha ruína - o tal "fundo do fundo que eu não sabia que havia em mim"... )

Eu mereço?

(Enfim... tenho que admitir que me obriga a reconhecer que, às vezes, paixões fulminantes realmente nos pegam de surpresa, fazem a gente perder o juízo e sair machucando todo mundo, sem nem se dar conta... me obriga a lembrar que, em 8 horas de conversa eu estava completamente determinada a jogar tudo para o alto e me mudar para Caracas!!! me obriga a admitir que esses encantos as vezes ofuscam mesmo sentimentos que antes pareciam maiores e que eu também provavelmente não teria medido muito minhas palavras para não machucar... me obriga a lembrar que, eu, tão apaixonada por estar apaixonada, também não tive muito cuidado para garantir um final menos abrupto com algúém que me amava tanto e que sempre tinha tido todo o cuidado do mundo comigo... - me obriga a pedir desculpa, em pensamento, de novo. Me obriga a reconhecer que 3,5 anos de amor incondicional+ 18 meses de relacionamento deveriam ser suficientes para que eu tivese tido muito mais cuidado - deveriam ser um motivo bem maior que 13 anos de pseudo amizade + 2 meses de pseudo relacionamento.
E- só para não dar margem à dúvida: arrependimento nenhum pelo fim (tão erroneamente postergado!), uma certa culpa pela forma, um certo constrangimento pela indulgência com minhas atitudes daqueles tempos e por esta recente intolerância com possíveis ofuscamentos/ surpresas do destino...)

Mas, divagações a parte - eu mereço?

Minhas sobrinhas GÊMEAS nasceram.

Ontem, 17 de Julho, as 6h da manhã.
E nada é mais importante do que isso...

Leve

Visto minha alma de felicidade
e ela, toda embecada,
me convida para sair

Fabiano Reis

surpreendente

Pequenos comentários neste dia, no mínimo, surpreendente...

1) Fascinante é mesmo um adjetivo gostoso de ouvir;

2) Ser chamada de mulher é algo que sempre me assusta... .logo eu, que continuo (talvez meio pateticamente) me sentindo tão menina...

3) Flores são sempre inesperadas - e sempre bem vindas !!!! Definitivamente uma forma de "interlocução sensível"...

4)Quanto tempo pode durar o encanto?
("Não do amor, de mim, duvido." - Thiago de Mello)

Brotamentos

Ando toda feliz com esses transbordamentos...
primeiro, por essa interlocução comigo mesmo ( e com algumas poucas pessoas queridas que visitam de vez em quando) mas, também, por assistir à mudança de paisagem e te cores...
Além da diversão de ficar tentando customizar esse negócio no total empirismo... Depois de burradas mil, já brinco com as cores e sorri toda vez que, ao invez de post a comment alguém planta uma semente que aparece para mim como um brotamento...
Aliás, estou cada vez mais enraizada nessas minhas metáforas vegetais...

Linha na agulha...

Já há alguns dias que ando pensando em "costurar" esses dois trechos que eu gosto muito...
meio sem tempo - e definitivamente precisando alinhavar melhor as idéias, deixo simplesmente os textos aqui, por enquanto. Só mesmo para não deixar o momento a que eles pertencem passar (e porque, no fundo, Camus e Clarice já tem todo um diálogo acontecendo...)


"...Já se disse que só vivemos verdadeiramente algumas horas de nossa vida. Isso é verdadeiro, em certo sentido, e falso em outro. Porque o ardor esfomeado que se vai sentir ( ...) nunca me deixou e. para terminar, ele é a vida no que ela tem de pior e de melhor. Eu quis, sem dúvida, corrigir o que ela produzia de pior em mim. Como todo mundo, tentei, bem ou mal, corrigir minha natureza pela moral. Mas, pobre de mim, foi o que me custou mais caro. Com energia, e isso eu tenho, às vezes chega-se a uma conduta segundo a moral, mas não se consegue ser. E sonhar com moral, quando se é um homem de paixão, é consagrar-se à injustiça, no próprio momento em que se fala de justiça. O homem me parece uma injustiça em movimento: penso em mim. Se, nesse momento, tenho a impressão de me haver enganado, ou de ter mentido, no que às vezes escrevia, é porque não sei como manifestar honestamente minha injustiça. Sem dúvida, nunca afirmei que era justo. Apenas me ocorreu dizer que era preciso tentar sê-lo, e também que era um sofrimento e uma desgraça. Mas a diferença é assim tão grande? E pode realmente pregar a justiça quem não consegue nem mesmo fazê-la reinar em sua vida?"

Albert Camus, ( prefácio de O Avesso e o Direito )



"Não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. Até cortar os defeitos pode ser perigoso - nunca se sabe qual o defeito que sustenta nosso edifício inteiro... Há certos momentos em que o primeiro dever a realizar é em relação a si mesmo. Quase quatro anos me transformaram muito. Do momento em que me resignei, perdi toda a vivacidade e todo interesse pelas coisas. Você já viu como um touro castrado se transforma em boi. Assim fiquei eu...Para me adaptar ao que era inadaptável, para vencer minhas repulsas e meus sonhos, tive que cortar meus grilhões - cortei em mim a forma que poderia fazer mal aos outros e a mim. E com isso cortei também a minha força. (...)
Gostaria mesmo que você me visse e assistisse minha vida sem eu saber. Ver o que pode suceder quando se pactua com a comodidade da alma."
(Clarice Lispector)

Citações

Ando colocando muitas, muitas citações por aqui... Resolvi então, trazer este Quintaninha, que me dá a devida permissão para apropriar-me de palavras alheias...

Qualquer ideia que te agrade,
Por isso mesmo
... e' tua.
O autor nada mais fez que vestir a verdade
Que dentro em ti se
achava inteiramente nua...

Espelho Magico - Mario Quintana

É engraçado porque, sempre que eu leio ou escuto algo que traduz muito o que eu penso, sinto uma mistura de encantamento e perda . Encantamento porque, muitas vezes, essa verdade nua dentro de mim foi vestida lindamente - mais lindamente do que eu conseguiria... e perda porque, aquilo que até então era tão meu, na verdade já tem outros donos (e milhões de espectadores/ donos) e, é portanto, bem menos meu.
Sem conseguir (nem tentar, para ser sincera!) fugir, lembro de um outro trechinho, agora do Milton

-"certas canções que ouço cabem tão dentro de mim que
perguntar carece: como não fui eu que fiz?".

Deve ser por isso essa sensação um pouco de estar sendo assaltada, de um brotamento que, enquanto timidamente se arrisca, já se encontra espelhado em pé de feijão gigante...
Também, no fundo...

Esse é um caderno de haver frases nele.
Um rio passa perto.
Estou sentado no barranco do rio.
Emas no pátio engolem cobras
Uma formiga está de boca aberta para a tarde.
As quatro patas da formiga tentam abraçar o sol.
Na verdade, não sei se são as patas da
formiga que tentam abraçar o sol
Ou se são minhas frases que desejam fazer
esse trabalho...
-- Manoel de Barros --

Segredo, segredo =>quem quer abraçar o sol sou eu...
(não mais laçar, como naquele poema que eu fiz quando pequenininha e virou colar e brinco, nem cavalgar, como eu achei que queria até outro dia... só quero mesmo é abraçar esse sol...)

jeitos de ver

Parece que a beleza só depende, mesmo, do ângulo que se olha, não?

PS.:Instalação em um museu de Israel, presente da Ana.

Trapezista

Pedacinhos de poesias que me "encontraram/encantaram" lá por Parati...

A segurança do palco
Não seduz a trapezista.
A sua alma de artista
Projeta-se para o alto.
Se há um risco no salto,
Há outro na plataforma:
Viver essa vida morna,
No máximo, balançar.

Porém, se quiser voar,
E se confia em meus braços,
Salte para os aplausos
Quando eu te colher no ar.

Carlos Augusto Caca

...

"Então o fato se dissolve. As lembranças são outras distâncias.
Eram coisas que paravam já a beira de um grande sono."
A gente cresce sempre, sem saber para onde.
Guimarães Rosa

Re-apropriação ou "Quebra e Volta do Encanto"

Foram 3 dias de altos e baixos em Parati.
Desde que surgiu a idéia de ir à Flip, oscilei entre euforia e apreensão. De qualquer forma, precisava muito me "re-apropriar" desta cidade que eu adoro - e que sempre senti muito minha, antes de qualquer coisa... Parati sempre me encantou pelas nuances todas que mostra a cada nova visita: com cada companhia nova é uma nova cidade que se revela. E, só mesmo uma roupagem tão distinta quanto a de uma Festa Literária para garantir que os momentos de nostalgia fossem infinitamente menos relevantes que os de encantamento.
Simbolicamente, foi importante. Pela re-apropriação em si, pelo fôlego que passeios assim sempre trazem, pelas conversas, cervejas e poesia, inundando tudo... Mas, principalmente, por esta sensação de "quebra de encanto". Encanto, neste caso, muito mais ligado a "spell", feitiço, quase "maldição" (por total inabilidade para encontrar palavra mais leve) do que os encantamentos aos quais me refiro sempre.
Quem sabe, no fundo, tenha sido este mesmo o "por quê" de tudo? Talvez eu precisasse desta estória, que me parece tão desnecessária, para interromper alguns ciclos, "quebrar encantos" que fui incorporando, que passaram a ditar ( e boicotar!!) comportamentos... que continuam causando um descompasso imenso...
E "volta do encanto", porque , afinal, Parati é linda, a poesia brotou em todos os momentos ( havia até um "pé de livros", olha só!!) e porque, sim, eu continuo conseguindo me encantar... com estórias, imagens, mocinhos e poesia...

Resumo da ópera:
Efetivamente re-apropriados:
- passeios pelas ruas, "O café", peixinho na pracinha da Matriz, esquinas e janelas, cervejinha na calçada, o botequinho mais singelo do mundo, o caminho em si.

Novas spropriações:
a própria Flip, Ariano Suassuna (impagável!!), o Teatro de Bonecos, o Casarão do Cunha - com jongo e ciranda da Luciana Menezes e Pau de Braúna (além da batata Rosti fantástica e outros atrativos mais -hahaha!!)...

O que, parece, nunca vai ter o mesmo gosto:
O cuscus de Tapioca, comida a dois, pelas ruelinhas...

Festa Literária de Parati

Sim, eu poderia abrir as portas que dão pra dentro
Percorrer, correndo, corredores em silêncio
(...)
Mas eu prefiro abrir as janelas
Pra que entrem todos os insetos
(Janelas Abertas - Caetano Veloso)

E nenhum lugar melhor para abrir janelas que Paratii...
Ainda mais assim, com a Festa Literária rolando, tanta gente interessante junto...
FLIP - aí vou eu!!!

Logo de Manhã... Bom dia!!

Eu sou uma pessoa que dorme pouco. Acordo muito cedo, mesmo quando durmo tarde... e acordo sempre muito animada, querendo aproveitar o dia, olhar o sol...!!!
Até um mês atrás isso andava sendo quase um problema... Difícil dividir a cama estreita, o quarto com alguém que precisa dormir tão mais que eu... E, apesar de eu fazer muita companhia para mim mesma, esse estar acordada no mesmo quarto onde o outro dorme era enlouquecedor... tudo angústias... e, meu corpo, assustado, querendo evitar discórdia, tratou de sentir mais sono para eu ficar quietinha e deixar o moço dormir mais...
Para váriar, timing horrível! Isso foi acontecer bem na véspera da viagem - da qual ele nunca voltou para mim... e eu me peguei toda dorminhoca, desperdiçando tempo precioso...
Bom, a boa nova é que 5h de sono voltaram a me bastar... e com isso eu voltei a ler mais, a correr, a ter tempo até para transbordar aqui.
É bom voltar a ser eu mesma.
By the way, são 6h da manhã e eu já estou no escritorio.

Janela sobre a Memória (II)

Um refúgio?
Uma barriga?
Um abrigo onde se esconder
quando estiver se afogando na chuva,
ou sendo quebrado pelo frio,
ou sendo revirado pelo vento?
Temos um esplêndido passado pela frente?
Para os navegantes com desejo de vento,
a memória é um ponto de partida.

(Eduardo Galeano in "As Palavras Andantes")

Ou um trampolim... (ou um trapiche...)
Sei lá - só sei que eu quero o vento...
e que "formiga, quando quer se perder, cria asa"...

faxina atrasada.. 27 de julho

Hoje é, na verdade, 27 de Julho de 2005. Mas, esse poema do Drummond passou no meu caminho esta tarde, em um dos últimos arroubos de melancolia, traduzindo tanto o que eu senti aqui atrás que não tinha como não incorporá-lo a estes transbordamentos. Entretanto, ele pertence a este sentimento aqui de trás mesmo - e não quero contaminar esse mês de Julho, tão fantástico, com respingos de mágoa antiga. Além disso, esse blog tem recebido algumas - poucas - visitas e não quero magoar pessoas que andam me fazendo bem.
Por outro lado, vendo fotos do final de semana super pombinhos me senti estranha... não consigo mais muito lembrar de como era a gente junto, não consigo lembrar de como eu achava que a gente combinava tanto e que você era na medida dos meus sonhos. Não me imagino no lugar dela - mas me ressinto por você não ter sentido por mim o que sente por ela - e ter me deixado pensar que sentia. Rola uma certa raiva ( até me surpreende eu escrever isso - raiva combina pouco comigo, muito mais dada a melancolias) pelo patético "você vai encontrar alguém que queira namorar" que eu tive que ouvir, como se esta fosse minha meta de vida. Mas é só esse o ressentimento - o resto é uma pontinha de saudade, de vontade de voltar a ser amiga. Perigo, perigo!! Gosto de me acreditar imune, mesmo sabendo que isso não é bem verdade... e o risco de recaídas é enorme, então melhor eu ficar aqui quietinha.

Bom, deixa eu colocar logo o Drummond e depois continuo meus devaneios...

A um ausente

Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conheçidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.

E, como eu pretendo, mesmo mesmo , que este seja o transbordamento derradeiro sobre este tema, vou colocar aqui também as mensagens de celular e MSN que eu ainda não tinha conseguido apagar, acho que para ter alguma evidência física e concreta de que eu não sou completamente alucinada, que eu não fui enlouquecendo sozinha, que você se empenhou em me fazer acreditar tinha alguma coisa rolando...

21/05/05 - última mensagem, depois de deixar no aeroporto:
Oi. Vim só deixar um beijo para minha dorminhoca preferida (e única!). Beijão, B. :)
18/05/05 Tudo em ordem: visto B1 por 5 anos! PS.: Já dise hoje que te adoro? 09/05/05 - Oi, Moça querida! Estou com muita saudade, mas fico aqui até amanhã... Aproveita bastante aí enquanto isso! Beijão :)
08/05/05 - Meu almoço foi peixe com uvas e molho de moranga. Adivinha de quem eu lembrei? BEijos com saudade, B :)
07/05/05 - Se cuida aí, dorme bem e não esquece que estou pensando em vocÊ. Beijão.B
04/05/05 - Alguém está pensando em você neste momento...
02/05/05 - Ei.. só queria mandar um beijo de boa noite. :) Dorme bem...
29/04/05 - Obrigadão, meu anJU da guarda! Já fiz seu doc mas leva 48 horas... depois eu pago os juros em beijos. :)
28/04/05 - Ei, Obrigado mais uma vez por cuidar de mim! Dorme bem, sonha comigo e até amanhã. Beijão ainda com saudade. B.
26/04/05 - Ei... O que você tem? Depois eu tenho um presentinho para você ficar melhor... por enquanto, só beijos pelo celular...:)

Isso sem contar os milhões de beijos de boa noite, bom dia, vale beijos e tudo mais... tinha pensado em colocar também as mensagens MSN, mas já achei patético o suficiente reproduzir essas... de qualquer forma, preciso limpar meu celular e ainda não estava pronta para simplesmente "let it go"...

Resposta

O Que Você Está Fazendo ?
Milhões De Vasos Sem Nenhuma Flor
O Que Você Está Fazendo ?
Um Relicário Imenso Deste Amor
(Nando Reis)

Tanto tempo até eu conseguir abandonar o cultivo de cicatrizes e voltar a semear caminhos floridos...Só sei que, esta manhã, remoer terrenos inférteis é, definitivamente, "infrutífero", mantendo a metáfora vegetal...
E eu não vou seguir fazendo "milhoes de vasos sem nenhuma flor"...

Relendo alguns destes transbordamentos, percebo que, apesar de travestidos de monólogo, são nitidamente respostas...
Então, para encerrar o assunto, fica aqui uma última resposta, constatação final da estória toda...

--> Você não tem culpa de não ser quem eu gostaria (ou quem vc resolveu deliberar ser o que eu gostaria), você não tem culpa de ter se apaixonado 2 dias depois. Mas você tem, sim, culpa de, sentindo tão menos do que você se sabia capaz, ter incentivado meu envolvimento e minha entrega, apesar de eu ter falado tanto dos meus medos. Você tem culpa, sim, de não ter tomado os mínimos cuidados para que a gente pudesse permanecer amigo - que era só o que eu queria num primeiro momento. que é o que eu ando sentindo falta.

(E ficou ainda esta cicatriz na minha mão, que eu não cultivo, mas que ri de mim o tempo todo, sabe lá até quando...)

Mas...

Tá na hora de acordar, sinhazinha
Tem muito o que fazer
Tem cabeça pra tratar
Tem que ler caderno B
Hora no homeopata
Fita no vídeo-clube
Tá na hora de acordar
Tem a vida pra viver
Tem convite pra dançar
Telefone pra você
Namorado pra ligar
Vinho branco pra esquecer
(Sinhazinha - Chico Buarque)

Só o que eu quero agora é "uma música que seja como o vôo de uma gaivota numa aurora de novos sons... " (Vinícius)

Resposta II

Outras culpas:
ter ido direto para minha casa e me levar para a sua, in the very day you fell in love with her, eu te deixar no consulado, dormirmos juntos a semana inteira, pensarmos a tatuagem do saci, eu te levar no aeroporto, você dizer que ia voltar pra mim...

Por que continuar adubando em mim algo que você já estava embrionando podar em você?

Pronto, agora acho que foi tudo...

Ups... acho que ainda não...

tem ainda o fato de você não ter dado um sinal de vida enquanto eu estava fazendo o meu tratamento com radiação... afinal, você já estava "começando uma nova estória, que será muito, mas muito longa..." e ainda assim, você teve coragem de vir com o "quero ficar sozinho, blá, blá, blá" e se fez de ofendido quando eu disse que me sentia uma palhaça... mas aí, é mais decepção com o amigo, mesmo...

E ainda a palhaçada de deixar o post com as mesmas palavras - mesmas!! Ipisis Litteris!!! - que escreveu para mim semanas antes... ( faltando só uma ou outra menção mais ousada que não ficaria bem prá todo mundo do mundo ver...)

Pronto, catarse feita!!!!!
Será que vou me arrepender deste rompante?
Mas, como diz a Gi, os homens fazem essas coisas porque sabem que nós não vamos dar uma de louca... se a gente tivesse mais rompantes, eles pensariam duas vezes...

Nossa - agora virou uma revolta geral contra os homens...
melhor eu ficar por aqui...

Gi - como era a teoria do surto mesmo? (finalmente a Gi explicou mais esta fantástica teoria e eu atualizei aqui atrás...)

Girassol na Escuridão

Artigo II

Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.

(Estatutos do Homem - Thiago de Mello)

Hoje é terça feira, oscilando entre cinzenta e linda.

E, logo de manhã, me chega esse girassol...

hábitos, livros e gostos

Tópicos que faltaram na linha do tempo...

5 bons hábitos
- acordar cedo
- usar mais escadas que elevadores
- beber muita água
- passar hidratante todos os dias
- ler poesia sempre,sempre, sempre!!

7 livros necessários
- Primeiras Estórias -Guimarães Rosa
- Os Dragões não conhecem o Paraíso - Caio Fernado Abreu
- As palavras Andantes - Eduardo Galeano
- A paixão segundo G.H. - Clarice Linspector
- Faz escuro mais eu canto - Thiago de Mello
- Retrato do artista enquanto coisa -Manoel de Barros
- O conto da Ilha desconhecida - Saramago

7 pequenos prazeres
- receber carta de amigo distante
- cerveja na calçada, com um finzinho de sol batendo
- correr no parque, com vento no rosto e passarinho cantando
- tomar banho de Rio (ou de mar, ou de Lagoas nos Lençõis...)
- descobrir uma música que traduz o que se sente
- encontrar uma "coisa"/música/lugar/poema que é a cara de alguém - e dar de presente, sem motivo aparente ou data marcada...
- dançar, dançar, dançar...

Festa Julina

Tanta gente querida, tão feliz ,tudo...

Meninos em cima da árvore, fogueira queimando, eu no balanço...
A vida anda boa, meus lamentos não fazem nenhum sentido...

Terceiro pensamento

Tem horas em que, de repente,
o mundo fica pequenininho,
mas noutro de repente,
ele já torna a ser demais de grande, outra vez.
A gente deve esperar o terceiro pensamento.
- Guimarães Rosa

Linha do Tempo

Ensaio escrever esta retorspectiva há quase um mês. Aliás, cheguei a rascunhar alguma coisa, logo que li em blogs alheios... mas... Não gostei da fotografia que compus naquele momento: tudo muito distorcido e em funçao de um dor que, agora, já começa a se mostrar bem pontual. Achei melhor deixar passar um pouco mais de tempo, para conseguir olhar tudo de um ângulo mais sereno, mais coerente com quem eu sou, dando um peso mais adequado so fatos... Acho que consegui médio - ainda gostaria que alguns dos acontecimentos abaixo não merecessem tanto destaque, mas... é uma fotografia de hoje, com o peso que as coisas tem hoje.

Retrospectiva feita, chego à feliz constatação de ter poucos arrependimentos, gosto dos caminhos e escolhas até aqui e tenho amigos fantásticos que tornam tudo mais leve e colorido... E a triste conclusão de andar repetindo muito as mesmas estórias...

Há 15 anos
- Fui morar em São Jose, decidida a não gostar
- Nasceu o Lucas - e eu fui inundado por um amor que nunca julguei caber em mim
- Vi meu pai chorar, feliz, por vislumbrar a possibilidade de ter as filhas morando com ele
- Ouvi "eu te amo" pela primeira vez - singelo, leve, intenso, assustador!!!
- Menina de prédio, aprendi a andar de bicicleta (quer dizer...)
- Adorei, muito, muito morar em São José...(e depois, chorei muitas segundas feiras, voltando para São Paulo...)
Há 10 anos
- Acompanhei as estações do ano refletindo toda a mudança que acontecia em mim
- Me encontrei fazendo cerâmica, esgrima e esquiando
- Percebi que as pessoas podiam gostar de mim, mesmo não tendo a menor obrigação de
- Ensinei meu irmão a gostar de música, teatro e outras graças dessa vida
- Engordei 20 quilos (8 em um mês!), que foram e voltaram loucamente, me assombrando por muitos anos
- Perdi a amizade mais querida - primeiro de muitos amigos perdidos por envolvimentos em vão..

Há 5 anos
- Aprendi que "no sertão, tempo bom é quando chove"
- Cogitei jogar tudo para cima e ir morar em Jacaré dos Homens ("E você lá tem pele pra isso?")
- Gostei de trabalhar com educação e comunidades rurais mais que qualquer coisa no mundo...
- Conheci "A Barca" e mil outras manifestações de cultura popular...
- Pensei pela primeira vez "homem da minha vida" - eu colhendo sementes, ele dirigindo um trator...
- Nadei no Rio São Francisco, que eu ouvia falar desde tão pequenininha...
- Passei por um terremoto - e se até o chão se mexe, onde é que a gente se segura?
- Tive minha primeira casinha..
- Minha tia-madrinha dos meus sonhos "bela adormeceu"...
Há uns 3 anos
- Abri mão de mil trabalhos que eu amava para trabalhar no Ministério da Educação - e não deu certo...
- Apostei minha fichas num trabalho para uma ONG - e não deu certo...
- Pensei pela segunda vez "homem da minha vida" - eu cozinhando, ele lendo Neruda...
- Comecei a fazer Ciências Socias - principalmente porque precisava passar em alguma coisa...
- Ganhei o prêmio "Empreendedor Social" e percebi que poderia ser feliz trabalhando com "negócios"
- Conheci mil cidadezinhas no agreste e no sertão, a Amazonia e o Maranhão!!
- Fiz uma porção de seleções para empresas - algumas deram certo!
- Fui privatizada - depois de uma escolha sofrida entre uma escola fantástica e o mundo marketeiro
- Voltei a usar calça, depois de 7 (!) anos de saia...
Há 1 ano
- Nasceu o Lucas, meu sobrinho afilhado - que fez brotar um amor incondicional absurdo... e rever todas as dimensões de sentimento...
- Criei coragem para terminar um relacionamento com um homem que me amava mais que tudo
- Me livrei de muitos dos tais quilos que me assombram - esforço enorme para tirar de mim o que não era mais eu.
- Pensei pela terceira vez "homem da minha vida" - e me apaixonei deseperadamente em apenas horas de conversa...
- "Cai no fundo sem fundo de um fosso que eu não sabia que havia dentro de mim" (Thiago de Mello)
Há uns 4 meses
- Finalmente me livrei do psicopata que me perseguiu por meses - chegando a cortar os pulsos!!
- Nasceu a Isabella, minha sobrinha, linda, linda!!!
- Reencontrei um amigo de longa data - depois de anos de busca e silêncio
- Passei um dos dias mais felizes: com direito a dança folclorica, chorinho, milk-shake de Ovomaltine, cinema e cervejinha na calçada...
- Sarei pela segunda vez, 25 anos depois, de uma infecção de rim brava, com homeopatia
- Dividi os meus textos e lugares mais queridos - que ficaram contaminados de lembranças agora tristes
- Tive o impulso de dizer - e efetivamente disse! - pela primeira vez, "amo você" - em vão.
Há mais ou menos 1 mês
- Tomei Iodo radioativo para tratar uns nódulos na tireoide... e tive que manter 1m de distância das pessoas por 5 dias - impressionante como contato físico faz falta!!! .
- Esperei sinais de fumaça que não vieram...
- Me livrei de outros quilos que teimavam em se ancorar em mim...
- Recebi a carta mais fofa do meu pai, normalmente tão desajeitado para entregar sua ternura
- Aprendi que nem mesmo muitos anos de amizade te protegem da falta de cuidado
- Perdi o amigo de longa data por um envolvimento desnecessário...
- Tive medo do tal "fundo sem fundo" - e meus amigos se esmeraram em "zelar" por mim...
- Comecei a registrar estes transbordamentos...
- Fiz minha primeira aula de canto
Ontem
- Uma das minhas saias - ironia das ironias! -virou atração no São Paulo Fashion Week!
- Comprei bandeirinhas, balões e paçocas para minha festa Julina
- Paguei a última mensalidade da Faculdade da Rosivânia, de Jacaré dos Homens - Ufa!!!
- Passei várias horas delícia numa ouvindo o Sambozo, lá na Biologia... ...
Hoje
- Dancei Ciranda, Jongo e Cacuriá no Parque do Ibirapura
- Tive uma libertadora vontade de dar uns beijinhos nuns mocinhos
- Tomei um monte de cerveja!! (ai,ai,ai )
- Voei bem alto no balanço...
- Percebi, de novo e de novo, quanta gente querida eu tenho em volta!!
Amanhã eu vou
- Buscar 8 saias que deixei para apertar na costureira - muito, muito bom!!!
- Preparar meu carro para ir para a Festa Literária de Parati
- Comprar presentinhos para minhas sobrinhas gêmeas que nascem mês que vem
- Mandar um e-mail para meus amigos mais que queridos, que tornaram o dia de ontem tão fantástico!!
- Assistir à adaptação para teatro de um conto de "Os dragões não conhecem o paraíso
Cinco coisas sem as quais não posso viver
- Palavras
- Começos
- Horizontes
- Janelas
- Coloridos
Cinco maus hábitos
- Não conseguir nunca encerrar as coisas: projetos, textos, relacionamentos...
- Remoer acontecimentos- muito além do saudável!!
- Tirar conclusões precipitadas
- Ir com muita sede ao pote
- Não ligar nos aniversários
Cinco programas de TV
Seinfeld
Sex and the City
Provocações
Globo rural (!!!!) - ups, acabou... eu assisto pouca TV...
Três coisas que me assustam
Falta de cuidado
Assistir às coisas desmoronando...
Perder a capacidade de me encantar...
Quatro coisas que estou vestindo neste momento
uma das minhas mil saias longas e coloridas!!
colar com a árvore da felicidade, presente de tia madrinha
uma faixa no cabelo...
brinco de folhas...
Quatro das minhas bandas/ cantores preferidos
A Barca
Monica Salmazo
Vanessa da Mata
Milton Nascimento
Xangai
Três coisas que eu realmente quero agora
Conhecer minhas sobrinhas gêmeas
Voltar a me envolver com questões sociais
Não deixar o medo me impedir de me lançar...
Três lugares onde quero ir de férias
India
Maranhão - de novo!!
Camboja
Se eu pudesse ter um superpoder
Teletransporte, com certeza!!!!
Uma coisa que eu acredito
Que a gente não pode deixar os outros (ou a vida!!) nos tornarem uma pessoa pior.

Minha saia no SP Fashion Week

Fui - a trabalho, obviamente!! - no SP Fashion week ontem...

Qual não foi a minha surpresa a ser parada, 3 vezes, para tirarem fotos da minha saia !!!!
Fui até entrevistada sobre "a volta das saias rodadas" - o que me fez discorrer sobre a presença das mesmas nas raízes da cultura popular, que foram sendo reprimidas/esquecidas e começam a brotar pelas frestas... enfim, obviamente nunca tinha parado para pensar no assunto, mas é só dar corda... mal acabou essa entrevista (com filmagem, voltinha e tudo) , apareceu outro fotógrafo... enfim, uma doidice só!!

Que ironia!
Eu, praticamente a pessoa que menos liga para moda no mundo (inclusive, me dá um bode imenso quando algo que eu uso entra na moda...), praticamente um ícone das novas tendências no mais fashion dos eventos!!!...

Para completar, a foto saiu mesmo na revista "Isto é, Gente" - só que sem a saia!!! Hahahaha!! Essa vida é mesmo muito engraçada!!!

Faz de Conta

"Pai, a vida é feita só de traiçoeiros altos e baixos? Não haverá, para a gente, algum tempo de felicidade, de verdadeira segurança?"

E ele, com muito caso, no devagar da resposta, suave a voz:

-"Faz de conta, minha filha... faz de conta."

- Guimarães Rosa

Permanências

Ai, caramba...
quando eu penso que está tudo bem, quando estou mega me divertindo e nem lembrando do assunto, pipoca algo para sombrear pensamentos. Ou, pior, parece que eu, não suportando estar contente de novo, procuro indícios que, invariavelmente, me entristecerão... Tenho pensado bastante sobre isso... até porque , mesmo quando estava tudo aparentemente bem, eu já ficava me torturando/ surtando... no fundo, no fundo, eu estou sempre na expectativa do final.. com uma intensidade/ sofrimento que ocupa tanto de mim, que fico até aliviada quando, efetivamente, acaba.

"Mas, naquele raiar, ele sabia e achava: que a gente nunca podia apreciar, direito, mesmo, as coisas bonitas ou boas, que aconteciam. Ás vezes, porque sobrevinham depressa e inesperadamente, a gente nem estando arrumado. Ou esperadas, e então não tinham gosto de tão boas, eram só um arremedo grosseiro. Ou pórque as outras coisas, as ruins, prosseguiam também, de lado e de outro, não deixando limpo lugar. Ou porque faltavam ainda outras coisas, acontecidas em diferentes ocasiões, as que careciam de formar, junto com aquelas, para o completo. Ou porque, mesmo enquanto estavam acontecendo, a gente sabia que elas já estavam caminhando, para se acabar roídas pelas horas, desmanchadas..."
(Guimarães Rosa)

Será que eu nunca vou estar "arrumada" para as coisas boas?

Será que vou sempre me atormentar pelo medo de ver tudo "roído pelas horas"?

Será que vou continuar antecipando o fim das coisas, apra não vê-las desmanchando?

Será que algum dia eu vou aprender a confiar na vida, nos caminhos, em uma hipotética "vocação para a felicidade"?

" Tanto é o poder errar, nos enganos da vida...
será que você seria capaz de esquecer de mim e, assim mesmo,
depois e depois, sem saber, sem querer, continuar gostando? Como é que a gente sabe?" - Guimarães Rosa

Ou, ainda mais, será que eu ando sendo capaz de esquecer e, ainda assim, continuar gostando?
Será que vou carregar, sempre sempre, esses "vazios repletos de inerências"?(Manuel de Barros)

Fato é: voltei a ficar entre brava e triste... sentindo bastante falta das conversas, ainda muito magoada com o amigo.
E revoltada por ter que passar por isso "Quando eu estava bem, morta de medo"

E já que estou toda citações,hoje...

Com que mentira abriste meu segredo
De que romance antigo me roubaste
Com que raio de luz me iluminaste
Quando eu estava bem, morta de medo

Por que não me deixaste adormecida
E me indicaste o mar, com que navio
E me deixaste só, com que saída
(Soneto - Chico Buarque)