Friday, July 01, 2005

Permanências

Ai, caramba...
quando eu penso que está tudo bem, quando estou mega me divertindo e nem lembrando do assunto, pipoca algo para sombrear pensamentos. Ou, pior, parece que eu, não suportando estar contente de novo, procuro indícios que, invariavelmente, me entristecerão... Tenho pensado bastante sobre isso... até porque , mesmo quando estava tudo aparentemente bem, eu já ficava me torturando/ surtando... no fundo, no fundo, eu estou sempre na expectativa do final.. com uma intensidade/ sofrimento que ocupa tanto de mim, que fico até aliviada quando, efetivamente, acaba.


"Mas, naquele raiar, ele sabia e achava: que a gente nunca podia apreciar, direito, mesmo, as coisas bonitas ou boas, que aconteciam. Ás vezes, porque sobrevinham depressa e inesperadamente, a gente nem estando arrumado. Ou esperadas, e então não tinham gosto de tão boas, eram só um arremedo grosseiro. Ou pórque as outras coisas, as ruins, prosseguiam também, de lado e de outro, não deixando limpo lugar. Ou porque faltavam ainda outras coisas, acontecidas em diferentes ocasiões, as que careciam de formar, junto com aquelas, para o completo. Ou porque, mesmo enquanto estavam acontecendo, a gente sabia que elas já estavam caminhando, para se acabar roídas pelas horas, desmanchadas..."
(Guimarães Rosa)
Será que eu nunca vou estar "arrumada" para as coisas boas?

Será que vou sempre me atormentar pelo medo de ver tudo "roído pelas horas"?

Será que vou continuar antecipando o fim das coisas, apra não vê-las desmanchando?

Será que algum dia eu vou aprender a confiar na vida, nos caminhos, em uma hipotética "vocação para a felicidade"?

" Tanto é o poder errar, nos enganos da vida...
será que você seria capaz de esquecer de mim e, assim mesmo,
depois e depois, sem saber, sem querer, continuar gostando? Como é que a gente sabe?" - Guimarães Rosa

Ou, ainda mais, será que eu ando sendo capaz de esquecer e, ainda assim, continuar gostando?
Será que vou carregar, sempre sempre, esses "vazios repletos de inerências"?(Manuel de Barros)

Fato é: voltei a ficar entre brava e triste... sentindo bastante falta das conversas, ainda muito magoada com o amigo.
E revoltada por ter que passar por isso "Quando eu estava bem, morta de medo"

E já que estou toda citações,hoje...

Com que mentira abriste meu segredo
De que romance antigo me roubaste
Com que raio de luz me iluminaste
Quando eu estava bem, morta de medo

Por que não me deixaste adormecida
E me indicaste o mar, com que navio
E me deixaste só, com que saída
(Soneto - Chico Buarque)

1 Comments:

Anonymous Anonymous plantou esta semente...

Sofre mais o que espera sempre que aquele que nunca esperou ninguém? (Neruda in O Livro das Perguntas)

Sossega aí, aproveita... não demora muito você já vai estar querendo se apaixonar de novo... Não é você que sempre diz gostar mais das tempestades que das calmarias?

8:03 PM  

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