Friday, September 30, 2005

reforma da casa VI

Artigo III

Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.


(Thiago de Mello in Estatutos do Homem )

pra brincar no meu quintal...


Na bruma leve das paixões que vêm de dentro
Tu vens chegando pra brincar no meu quintal
No teu cavalo peito nu cabelo ao vento
E o sol quarando nossas roupas no varal


Tu vens, tu vens
Eu já escuto os teus sinais


A voz do anjo sussurrou no meu ouvido
E eu não duvido já escuto os teus sinais
Que tu virias numa manhã de domingo
Eu te anuncio nos sinos das catedrais

- Anunciação, do Alceu Valença
-

Thursday, September 29, 2005

Dançar conforme a música

"Quando me disseram que eu tinha que dançar conforme à música, tomei providências: entrei numa boa escola de dança, e aprendi a ler partituras.
Transformei em violino a palma da minha mão.
Abracei a clave do Sol, envolvi-me em semifusas e colcheias, deliciei-me nos braços de Beethoven. Comecei tocando os instrumentos principais, com determinação, e fui me aprimorando. Depois, tornei-me compositor, maestro, e agora sou o regente e diretor musical da própria orquestra.
Por isso é que sempre danço conforme à música.
A música que eu escolho."


(texto do Edson Marques ( http://mude.weblogger.terra.com.br), uma das descobertas mais felizes nessas minhas andanças internáuticas recentes...)

Eu me encontro ultimamente em pleno Carnaval...

Minha vida anda infestada - deliciosamente infestada!! - de samba há algumas semanas. Samba da Vela (mais ritual, aqui na Casa de Cultura de Sto Amaro ou prá se esbaldar de dançar, nos sábados de "Você vai se quiser"), 4as feiras com Monobloco, Thereza Cristina e outros shows no sesc e afins, Sambozo na Feijoada da Malu...

E o retrato da noite de ontem:
"minha alegria atravessou o mar
e ancorou na passarela
foi um desembarque fascinante..."


Enfim, sigo cultivando muito esta fase de "ofegante epidemia", para que seja mesmo uma "evolução da liberdade" e não apenas "uma alegria fugaz"...

músicas não tão preferidas

Esse nem é um pensamento meu (Suzy, foi você que disse isso?), mas faz tanto sentido que veio parar aqui...
Todo CD, mesmo os que a gente gosta muito, tem aquelas duas músicas que a gente gosta bem mais ou menos (ou nem gosta), e podendo, sempre "pula"... Fica a pergunta: será que o cantor/compositor do CD gosta, mesmo, mesmo de todas as músicas? (ou ele tb, quando estava gravando, teve vontade de "pular" alguma?)

Wednesday, September 28, 2005

Não deixando o samba morrer...


Vista aérea - e noturna! - da canja do Sambozo, até o dia seguinte...
(Provando que aqui tem esse negócio de "túmulo do samba" e que oa japoneses andam mandando muito bem na batucada e afins...)

Tuesday, September 27, 2005

reforma da casa V

Menina, Amanhã de Manhã
Monica Salmaso - Composição: Tom Zé - Perna


Menina , amanhã de manhã
Quando a gente acordar quero te dizer
Que a felicidade vai desabar sobre os homens
Vai, desabar sobre os homens
Vai, desabar sobre os homens

Na hora ninguém escapa
De baixo da cama ninguém se esconde
A felicidade vai desabar sobre os homens
Vai, desabar sobre os homens
Vai, desabar sobre os homens

Menina, ela mete medo
Menina, ela fecha a roda
Menina, não tem saída
de cima, de banda ou de lado (...)

Menina a felicidade
É cheia de praça, é cheia de traça
É cheia de lata, é cheia de graça

Menina, a felicidade
É cheia de pano, é cheia de peno
É cheia de sino, é cheia de sono (...)

Monday, September 26, 2005

2 meses, 2 semanas...

Fotos novas das minhas princesas, agora com 2 meses...

Nem acredito que daqui a 2 semanas eu vou conhecê-las... 1 mês inteiro para paparicá-las e matar essa saudade imensa que estou do Lucas e da Lu...

Total contagem regressiva!!!

Água no feijão...

A feijoada da Malu foi mesmo muito gostosa - valeu total nosso empenho na "super-produção"!!!
Foi uma tarde toda de muita cerveja, comilança e risadas mil... mas impagável mesmo foram as 12 (!!!!!!) horas de samba e choro com os meninos do Sambozo...
Afinal, mesmo depois de finda a feijoada, não poderíamos
deixar o samba morrer...
A prorrogação foi até mais de meia noite, com direito a aparição de um lunático tirando a cueca pela cabeça... (meio queima-filme escrever isso aqui, mas, pensando na posteridade... a imagem foi tão impactante que merece o registro!)


Músicas preferidas da noite: "Doce na Feira" (rsrsrs) e "Sei lá, Mangueira", linda, linda, que eu não conhecia bem, mas não sai da minha cabeça desde ontem...

Enfim, "sei lá, não sei"...

Doce na Feira
(Jair do Cavaquinho / Altair Costa)

Vendendo doce na feira
Eu vi aquela cabocla
Que há tempos lá na Portela
Andava de boca em boca
Fez sofrer seus companheiros
Com as infiéis conquistas
Tanto fez que tanto fez
Que acabou se apaixonando
Por um volúvel sambista (...)

Sei lá, Mangueira
(Paulinho da Viola e Hermínio Bello de Carvalho)

Vista assim do alto
Mais parece um céu no chão
Sei lá
Em Mangueira a poesia
Feito um mar se alastrou
E a beleza do lugar
Pra se entender
Tem que se achar
Que a vida não é só isso que se vê
É um pouco mais
Que os olhos não consegue perceber
E as mãos não ousam tocar
E os pés recusam pisar
Sei lá, não sei
Sei lá, não sei
(...)

Friday, September 23, 2005

Reforma da Casa IV - Manual de sobrevivência

Durante a reforma, prudente manter distância. Menos pelo bem da reforma, mais pela preservação de si. Estão sendo derrubadas paredes inteiras e, enquanto janelas e afins são retiradas com cuidado (para serem re-colocadas em outros ângulos ou encaminhadas para outros destinos) muita coisa vai ao chão à marretadas e estilhaços são inevitáveis...

Alguém pode decidir, por sua própria conta e risco, atravessar o cordão de isolamento.
Perigo, perigo!!! Na casa em reforma, visitas são pouco bem vindas. Seria como entrar no banheiro enquanto o outro de despe - algo que só se faz com muita certeza da intimidade, do convite implícito. E, se tapumes fecham as aberturas todas, não há um convite implícito.
Na casa em reforma, só é bem vindo quem está trabalhando na reforma. E esta casa em reforma não está admitindo outros trabalhadores... ou mesmo visitas...
Olhares curiosos são dispensáveis. Perguntas sobre os rumos da reforma são dispensáveis.
Por encher todo o interior de pó e barulho, a casa em reforma pede ar e silêncio, espaço e tempo.


E, porque o projeto de reforma não está completamente definido ( e, graças aos céus, não estará nunca!!!) , querer saber o que esperar no fim da reforma é pecar contra o direito de mudar de idéia. Porque a casa em reforma quer inventar-se ao longo do caminho, decidir que aqui fica bem uma janela, lá uma porta, uma claraboia... mas não se comprometer com essa janela. E nem quero que saibam ( se é que eu sei!) a dimensão, localização... Porque quando isso acontece, inevitavelmente, por querer participar da reforma, contribuir, enfim, por excesso de carinho, surgirão, por exemplo, cortinas de presente. Acontece que, ter essas cortinas pode impedir, por exemplo, que a janela resolva abrir para dentro. Ou que a janela tenha o dobro do tamanho. Ou a metade. Ou que o sol deva poder atravessar essa janela o dia todo. Ou que seja ainda muito cedo para colocar o suporte da cortina - talvez as paredes, tão novinhas, ainda não aguentem... ou talvez, simplesmente, já exista em mente uma cortina diferente desta ganha... E não é justo exigir da casa em reforma que se adeque à cortina que alguém idealizou para ela. Até porque, cortinas passam...

Importante, importantíssimo: Esta é uma casa em reforma e não uma casa em ruínas - ninguém está precisando ser "salva"...

Aquele que decidir entrar na casa em reforma não deve esperar uma recepção calorosa, como se fosse o príncipe da bela adormecida que atravessou a floresta para salvar a princesa de seu sono profundo. Não pode portanto se ofender se for recebido com uma certa hostilidade - "que absurdo! enfrentei a floresta de espinhos para te visitare é asim que você me recebe?". Que fique claro - há uma intenção de manter um certo isolamento e, quem decidir que sua vontade de entrar é soberana à vontade de não receber visitas, não espere gratidão... Quem insiste em entrar, apesar dos avisos todos, dos pedidos todos, entra para satisfazer seus anseios (mesmo que por excesso de carinho, cuidado, o que quer que seja....) e não por um ato de extrema bondade, desprendimento, coragem e cuidado.

E, se você for convidado entrar um pouquinho, é para dar uma olhada e não se instalar de mala e cuia - uma casa em reforma não comporta hóspedes! Se for convidado a dar um palpite, por exemplo, sobre o piso da sala ou o local da rede, resista à tentação de querer definir também onde vai a lareira, qual a cor dos estofados...
Me dê o tempo e o espaço para que eu possa pedir a sua opinião e receber seu conselho como quem recebe um presente e não como quem enfrenta uma invasão.
Porque é preciso poder não precisar levar em conta palpite algum - assim se o telhado desabar de repente, não vou culpar ninguém, a não ser a mim mesma pelo dano. E é também por isso que eu preciso que ninguém fique embaixo enquanto eu não estou segura em relação a este telhado... Quero que cada detalhe seja responsabilidade minha, seja fruto das minha decisões e dedicação. Quero para mim todas as culpas e todos os méritos (como dá para perceber, alguns alicerces não mudam...).
E, também, porque, apesar da seriedade deste "manual de sobrevivência", este é um momento tão leve, tão alegre - a casa vai sendo reformada em meio a tanta cantoria.... !

Porque, mais que tudo, a casa depois de reformada pretende ser um presente e uma surpresa.
E, quando houver a inauguração, quem for convidado vai encontrar um espaço cheio de aconchegos. E aí sim, eu garanto uma recepção calorosa, convites para passar temporaradas e muitos daqueles eventos que eu gosto tanto de organizar...
Então, por favor,só por enquanto, fiquem longe dos escombros...
Eu preparei um jardim tão bonito para vocês aproveitarem a espera...

Thursday, September 22, 2005

Primavera II

Mas é claro que a primavera chega.
É certo que a vida não se esquece,
e a terra maternalmente se enfeita
para as festas da sua perpetuação.
- Cecília Meireles -

Janela sobre a Chegada

Ainda dentro da "reforma na casa", minha janela preferida..
(que foi dada e voltou, ainda mais linda, de presente do Marcos....)
O filho de Pilar e Daniel Wainberg foi batizado à beira-mar.
E no batizado, ensinaram a ele o que é sagrado:

Recebeu um caracol.
-Para que aprenda a amar a água.
E no caracol todo o labirinto ao que o mergulho nos conduz.

Abriram a gaiola de um pássaro preso:
-Para que aprenda a amar o ar.
E nas asas o amor ao vento e à ousadia de ser.

Deram a ele uma flor de gerânio:
- Para que você aprenda a amar a terra.
E saber o quanto somos feitos do mesmo barro
que a vontade e o repouso.


E deram também uma garrafinha tampada:
-Não abra nunca, nunca. Para aprender a amar o mistério.
"E disse Gayatri a Alan:
-Existem mistérios que se escondem no corpo.
Não convém que o despertemos..."

("Noites de Bengali", Mircea Eliade)
PS.A Janela original, do Eduardo Galeano é só o que está em azul, sem itálico...
O resto foi o tal presente......

Porque hoje começa a primavera...

Tuesday, September 20, 2005

reforma na casa - III

A maior riqueza do homem é sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito.
Não aguento ser apenas um sujeito que abre
portas, que puxa válvulas, que olha o relógio, que compra pão às 6 horas da tarde, que vai lá fora, que aponta lápis, que vê a uva etc. etc.
Perdoai.
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem usando borboletas.

- Manoel de Barros -



Matriarcado

Definitivamente, eu venho de um matriarcado ( o que talvez explique muitas coisas, mas fica para outro momento...)

Na família da minha mãe, foi sempre minha avó que ditou os rumos de todos... A foto ao lado está tão linda que não precisaria de pretextos para vir pra cá, mas hoje faz ainda mais sentido, já que é o aniversário dessa minha avózinha, tão querida!!
Já a família do meu pai sempre foi o maior exemplo de patriarcado... mas, depois da morte do meu avô, minha avó tomou lindamente as rédeas de sua vida e, aos 80 anos foi fazer faculdade, aulas de dança, hidroginástica... aliás, não muito tempo atrás, eu liguei para saber dela e descobri que tinha ido com amigas para Cancun!)

Monday, September 19, 2005

Peróla do final de semana

Faltou falar direito do show, que merece muitíssimo!
Em Março fui com a Suzy e biólogos mil a um show fantástico, com a Monica Salmaso e a Teresaristina cantando só Chico - divino!!!

A Mônica Salmaso já vinha sendo minha intérprete preferida há tempos, mas a Teresa Cristina eu fui conhecer melhor alí... e estava justamente comentando com as meninas sobre este show de março quando a Teresa chama pra cantar "Acalanto" com ela a própria Mônica!!!
Adoro, adoro quando algo que já se supunha perfeito se mostra ainda melhor...

E fica aqui essa música, caindo como uma luva no meio da "reforma da casa":

"Lá do alto a cachoeira
Vem descendo a ribanceira
Num roncar que não tem fim
Curso d´água é quem me guia
Canto a dor e a alegria
A vida me fez assim
Pode me faltar dinheiro
que eu trabalho o ano inteiro
pra poder recuperar
mas nunca me faltem flores
pra agradecer amores
que Oxum vive a me dar''

(Teresa Cristina)

Corrida e correrias...

Uma das pouquíssimas coisas que eu lembro das aulas de Bioquímica é um lance sobre os sítios de ligação das hemoglobinas. Se tiver algum Biólogo de verdade aí de plantão e eu tiver falando muita bobagem, me corrija (rsrsrsrs) Voltando à Bioquímica, as hemoglobinas tem 4 sítios de ligação para o oxigênio (ou o gás carbônico...). A partir do momento que um oxigênio se liga, ocorre algo "x" (mudança de configuração/ estrutura?), que potencializa o estabelecimento de ligações nos outros sítios.
Ou seja: a hemoglobina pode vagar um certo tempo sem nenhum oxigênio para dar aquela alegrada, mas é só se juntar com um que aparecem outros 3, todos animadinhos... Acho que eu guardei bem esta informação porque ela se aplica a milhões de outras coisas: é só aparecer a escola dos seus sonhos pra você dar aula que surgem 3 outras propostas de emprego legais, só chamarem para um happy hour que aparecem outros 5, só começar a se encantar com um mocinho e surgem outros para confundir as idéias...
Enfim... tudo isso para explicar a doidice que foi o final de semana passado... Não satisfeita com o terceiro módulo de Massagem Ayurvédica e o curso de Pranayamas coincidirem (e os dois, sábado e domingo quase inteiros!) ainda inventei de me juntar ao time da P&G na Maratona de Revesamento, 5.3 km, pleno domingo de manhã...
Obviamente, corri até cansar, andei pra descansar, corri até cansar... - como eu faço normalmente aos domingos, no parque, só que nunca tantos km seguidos ( e sem pausas para ver barraquinhas de artesanato e tomar águas de coco...). Mas posso dizer que me surpreendi por ter conseguido correr mais (e mais rápido!) do que eu pensava e por ter por ter gostado mais do que eu imaginaria... (e por não ter ficado nada dolorida no dia seguinte, também...) Agora eu até entendo melhor o Ricardo, com toda aquela animação em torno das corridas, esse troço tem mesmo um potencial viciante...

Fora a corrida, o final de semana foi uma correria só - já na sexta, do curso para o Happy hour comemorar o emprego novo da Lu, para a Baladinha do Alê, para os 2 cursos no sábado, show da Teresa Cristina no Sesc, a corrida em si e os cursos de novo... e para arrematar o final de domingo, sopa no pão e filminho embaixo das cobertas (Contra a Parede, muito bom!), rituais de inverno muito preferidos, ainda mais com aquela lua linda, linda!

reforma na casa - II

Notícia da Manhã
- Thiago de Mello -

Eu sei que todos viram
e jamais esquecerão.
Mas é possível que alguém,
denso de noite, estivesse
profundamente dormido.
E aos dormidos - e também
(...)a todos que não a viram
contratei esta manhã


(...) Pois dentro desta manhã
vou caminhando.

E me vou tão feliz como a criança
que me leva pela mão.
Não tenho nem faço rumo:
vou no rumo da manhã,
levado pelo menino
( ele conhece caminhos
e mundos, melhor do que eu) .

(...)Sua doce claridade
já se espalhou mansamente
por sobre todas as dores.
Já lavou a cidade. Agora,
vai lavando corações

( não o do menino; o meu,
que é cheio de escuridões ) .

Por verdadeira, a manhã
vai chamando outras manhãs
sempre radiosas que existem
( e às vezes tarde despontam
ou não despontam jamais)
dentro dos homens e das coisas:
(...)A manhã está no chão, está nas palmeiras,
está no quintal dos subúrbios,
está nas avenidas centrais,
está nos terraços dos arranha-céus.
( Há muita, muita manhã
no menino; e um pouco em mim. )


(...)- ah! pois todas essas coisas
que minha ternura encontra
num pedacinho de rua,
dão eterno testemunho
da amada manhã que avança
e de passagem derrama
aqui uma alegria,
ali entrega uma frase,

além deixa uma esperança,
mais além uma coragem,

e além, aqui e ali
(...) vai derramando um perdão,

vai derramando uma vontade de cantar. (...)

reforma na casa - 1

Esse final de semana teve a cara desta musiquinha da Joyce...

Olha aí, monsieur Binot
Aprendi tudo o que
você me ensinou
Respirar bem fundo e devagar
Que a energia está no ar

(...)
Bom é não fumar
Beber só pelo paladar
Comer de tudo
que for bem natural
E só fazer muito amor
Que amor não faz mal

E o resto nunca se espera
O resto é próxima esfera
O resto é outra encarnação...

(Detalhe só esse "beber só pelo paladar" - do jeito que eu gosto de cervejas e afins, isso não vai evitar algumas estripulias...)

Thursday, September 15, 2005

amigos tão amigos...

No início do ano, fiz duas grandes "resoluções de Ano Novo": não ser mais refém do trânsito de São Paulo e resgatar pessoas queridas que tinham ficado lá prá tras, que eu fui perdendo ou se perderam de mim, nas correrias da vida, nos meus períodos mais eremitas, por um tropeço ou outro...
Em relação à primeira, comecei o ano me esmerando: logo de cara muitos finais de semana em Itamambuca, no Rio, Piracicaba, Embu, Campos, Parati, sem contar a viagenzinha de 20 dias para a casa da minha irmã e o pós Carnaval no Rio... Esta fase só foi temporariamente interrompida quando precisei restringir o Iodo na minha vida, por conta do tratamento da tireoide (logo quando eu estava numa fase muito de praia!!!) e outros percalços, mas já foi devidamente retomada... por outro lado, os finais de semana em SP também estão sendo super bem aproveitados, sem aquele bode de "não acredito que está um dia lindo e eu aqui!"...


Em relação ao segundo próposito, o de resgatar os amigos, sucesso também!

Rolou todo um empenho: orkuts, perguntas para o amigo do amigo do amigo, MSN... uma vez "re-encontrados", novo empenho para rolar aquela cerveja, colocar conversas em dia... Daí um fura daqui, outro fura de lá... cervejas a mais, outros tropeços... fato é que eu realmente consegui trazer de volta para minha vidinha muita gente querida... (Sem contar as pessoas novas, tão interessantes, para a gente se encantar a cada dia... mas isso fica para outro post)
Este final de semana, então! O encontro não planejado com o Lucio... (em tempo: O Lúcio é um daqueles amigos-preciosos-que-não-se-pode-perder-por-nada-no-mundo, a pessoa com a maior capacidade de abstração que eu conheço... foi meu colo e minha casa nuns períodos muito incertos da minha vida e me deu de presente pérolas como a imagem dos filósofos jogando xadrez no limbo...)
E, quando eu já começava a dar por concluída a "missão resgate", brota a Bia, do nada também e, hoje, via orkut, a Angélika!!! Cara - eu procurei muito, muito a Angelika depois que ela voltou para a Polônia, em 96, eu acho... lembro o quanto foi importante, naquela época, uma visão tão diferente de tudo... hahaha - esta vida é muito maluca ( e boa!), mesmo!

Agora, dois novos focos: tratar de manter esses "recém resgatados" aqui no meu jardim e cuidar melhor de quem já está por perto (e aguentou, firme e forte minhas doidices todas!...). Aliás, eu tenho uns amigos muito guerreiros mesmo - e adoro, adoro este sensação de amizade consolidada, que aguenta distâncias e silêncios e re-surge, com novas cores, benefits, whatever...

Para resgatar só falta a Tais (já devidamente agendado para hoje, com karaokê e tudo!!), a Tati (que veio tão em meu socorro e anda com tantas novidades!!)... e o Lubisco, que eu também vou encontrar no mês que vem, em Salvador...Chato, não?
Agora, sumidas mesmo, continuam só a Clau e a Tânia ( aliás, urgente trazer a Tânia de volta... que também sempre olhou tudo de um jeito
tão diferente, ajudando tanto a pensar melhor as coisas... tenho certeza que umas conversas com ela teriam evitado algumas confusões...)

Gi- tenho que admitir que nosso sorvetinho no América no domingo teve também um pouco esse gosto de resgate, de velhos tempos... que bom!!!

Wednesday, September 14, 2005

Caça às vacas!!!

E a grande idéia do domingo foi percorrer as redondezes atrás das vacas que estão espalhadas pela cidade, tirando fotos!!!


Como definiu a Carol, eu estava completamente frenética!!! Depois do Milk Shake de Ovomaltine, então... fiquei impossível, quase (quase???) insuportável!



Cada vaquinha nova virava, instantâneamente, minha preferida!!! E assim tiramos as fotos com a Vaca letrada, a gripada, a pensadora, a naif (definitivamente a preferida!!)


Para completar a minha alegria, em frente ao Conjunto Nacional, do nada, eu encontro o Lucio, que veio para a foto também... Fiquei completamente feliz por encontrá-lo, saber que ele está de volta nessas bandas...

Bem, como a euforia era realmente anormal, eu me sabendo extremamente pendular, comecei a ficar com medo do final de domingo... Então lá fui eu tomar sorvete do América com a Gi... e, para fechar com chave de ouro, na saida, do nada resolvo entrar na farmácia, para aquela olhadinha básica e dou de cara com a Bia, que também andava muito sumida... e lá se foi mais de uma hora de conversas e risadas...

Realmente, eu preciso deixar de ter sempre tão programado tudo o que eu vou fazer ( todos os eventos e cursos e shows e happy hours, enfim!!) para dar mais espaço para esses encontros e doidices que vão brotando inesperadamente...

Monday, September 12, 2005

Festa de Casamento


O casamento da Mari e do Ro foi mesmo muito gostoso!!
Super delícia vê-los tão felizes, colocar conversas em dia, ver as fotos antigas, comer e beber bem, dançar, dançar, dançar!!

Pra variar, fomos os ultimos a ir embora....


... levando um monte de bem casados!! rsrsrs








E, na volta, ainda tivemos a melhor idéia para aproveitar o domingo...

Muita, muita cultura popular...


O final de semana começou ensolarado e lindo....
Toda contentinha, lá fui eu para meu tradicional passeio no Parque da Água Branca + aula de Dança Afro... só no caminho me lembrei que já era o primeiro dia do Revelando São Paulo - 10 dias de muita cultura popular, delícia, delícia... Eu tenho ido muito lá no parque - e é engraçado porque você começa a reconhecer um pouco as pessoas - quem vai pelo café da manhã da fazenda, os que vão comprar na feira orgânica, a turma que corre, os que andam , as crianças... e, eventos como este acabam trazendo um público muito diferente... Tenho que admitir que me sinto meio invadida (, tanta gente assim neste parque que eu sinto tão meu e correr, então, nem pensar!)... mas, cultura popular é sempre tão bem vinda que eu achei muito mais bom do que ruim...
Acho que uns 15 grupos se apresentariam durante o sábado, mas, como meu destino se esmera em ser irônico, foi só eu chegar lá na arena para começar a apresentação do CTG - Centro de Tradição Gauncha - com suas prendas, chulas e música do balaio... mas belezinha, sem traumas... Aliás, até uma ternura gostosa, percebo, aliviada!

Bom, assisti um pouquinho, andei pela feirinha e voltei para o "almoço de 'domingo' na casa da vó". Depois foi só mesmo me arrumar para o casamento da Mari e do Rô, que obviamente, merecem um post a parte!


Ah! O Revelando São Paulo vai até dia 18, das 9 às 21h, com uma porção de atividades legais....Vale a pena olhar a programação no site e se reservar também um tempo para passear pelas barraquinhas de comida e artesanato de tradição da melhor qualidade! Ja adianto que no sábado (17) tem Noite de Tambores (com jongo, batuques e samba de umbigada) e domingo (18) rola o encontro de Congada, Moçambique e Folias do Divino e de Reis.

Lembrei muito, também, do Ricardo... perdi a conta de quantas apresentações dessas a gente foi junto lá do Parque... Aliás, acho que foi numa dessas que ele me deu aquele livro do Camara Cascudo, dizendo que a gente era meio uma prova de que "nem tudo que é bonito e mágico é lenda". Me pego um pouco como aquele menino de "O meu amigo pintor", tentando entender como é que alguém que escreve uma coisa singela assim resolve ir embora deste mundo, assim, prá sempre...

Saturday, September 10, 2005

Explicação de um sorriso

Operação Alma
Mario Quintana

Há os que fazem materializações...
Grande coisa! Eu faço desmaterializações.
Subjetivações de objetos
Inclusive sorrisos,
Como aquele que tu me deste um dia
Com o mais puro azul de teus olhos
E nunca mais nos vimos.
(Na verdade, a gente nunca mais se vê...)
Há muito que ele faz parte de certos estados do céu,
De certos instantes de serena, inexplicável alegria,
Assim como um vôo sozinho
põe um gesto de adeus na paisagem,
Como uma curva de caminho,
Anônima,
Torna-se às vezes a maior recordação
de toda uma volta ao mundo!


(Guarda com carinho aquele sorriso - não havia nele nenhuma promessa,
mas também nenhuma mentira.
Desculpa os tropeços do caminho, o silêncio.
Desculpa, principalmente, eu ser assim tão arredia.
Me dá o espaço e o tempo que combinamos e deixa as coisas retomarem -
calmamente, espontaneamente - seus rumos.
E, quando menos se espera, já é primavera e os caminhos voltam a ser floridos!)

Friday, September 09, 2005

Janela sobre o mar

Não está cravado num lugar. As montanhas e as árvores têm o destino na raiz, mas o mar foi, como nós, condenado à vida vagabunda.
Ares marinheiros: nós, homens da costa, fomos feitos de mar, não apenas de terra. E sabemos disso muito bem, mesmo que a gente não saiba, quando vamos navegando na maré das ruas da cidade, de café em café, através da bruma viajamos rumo ao porto ou ao naufrágio que espera por nós nessa noite.

( Eduardo Galeano - abrindo mais e mais janelas por aqui...)

E falando em inundações...

Eu sempre me soube muito feita de água e terra...
as próprias metáforas que brotam por aqui mostram isso... mas, ultimamente... não sei, definitivamente anda tudo molhado demais, inundado demais...
Essa sensação, aliás, é tão mais que metáfora do que passa na minha cabeça que até meu corpo anda acumulando água... sei lá se estripulia dos meus hormônios, sei lá se todo esse apego mesmo, ou se ando mergulhando tanto nos meus sonhos que trago essa água toda em mim ao amanhecer ... e não é um agua fluída - tem muito uma sensação de represamento, de estar contida... aliás, parece tão presa em mim, que apesar de estar super inchada, é como se meu corpo não estivesse conseguindo fazer nada com essa água toda, traduzir em umidade mais saudável: minha pele anda super seca ( e, quem me conhece minimamente, sabe que não é falta de hidratantes mil...) e com estas chuvas toda, me sinto realemente uma represa!

Enfim, correndo no parque na manhã do feriado, com aquele frio todo é que a gente acaba reparando no vento, no próprio ar. E me dei conta de que é isso que anda faltando: ar - aqui e em mim.
Preciso arejar mais este chão e as idéias. Até porquê, com tanta água é capaz dessas sementinhas aqui postas com tanto carinho e cuidado apodreçam, embolorem... e esse é um destino muito triste para essas sementinhas, tão delicadas...
E, como é um chão cheio de sementes, um trator não é, definitivamente, a forma mais indicada. Até porque, se bem me lembro ( talvez algum biólogo possa ajudar! rsrsrs) os tratores não são mesmo muito adequados a estes nossos solos que não passam por invernos rigorosos - eles tem força e peso em excesso - remexem muito e depois, acabam compactando de novo com o próprio peso. Mesmo arar o solo me parece perigoso - algumas coisas demoram muito para serem decompostas e incorporadas às camadas mais profundas e não convém trazê-las à tona.
Penso que minhocas, simplesmente, podem dar conta do trabalho: revolvendo, delicadas a terra, ajudando a digerir o que ainda estiver inteiro, decompondo para não deixar apodrecer. E, ao mesmo tempo, mudando um pouco as coisas de lugar, tornando tudo mais fértil... e tudo bem devagarinho, para não assustar, para não mudar demais a paisagem...

Em paralelo, vou tratar de trazer mais ar e vento pra cá. E sol (aliás, com essa umidade toda, qualquer raiozinho de sol mais destemido já deve estar despertando uns arco-íris por aqui...)
E, para evitar grandes alagamentos futuros, sei lá, talvez tentar drenar um pouquinho essa água toda, cuidar para que ela escorra tranquila, em forma de riachinho ( como esse aí do lado, por onde vai "O menino do Rio Doce"), abrindo caminhos e clareiras por aí, desaguando em outros cantos...

PS.: Vendo essa aguaceira toda, terreno ficando quase pantanoso, pensei até em plantar aqui um eucalipto. Mas aí, achei melhor não. A gente precisa ter muito, muito cuidado com as coisas que têm vida - principalmente aquelas que podem adquirir proporções tão grandes, ainda mais se for assim com uma "função" específica, para sanar um problema pontual... Ainda mais uma árvore, com raiz crescendo, ela toda crescendo... O que fazer depois que ele já tiver cumprido missão? Arrancar de lá? Podar? E se, mesmo depois de resolvido o inundamento, ela continuar alí, secando tudo? E, resolvido o inundamento, ela vai continuar alí, agora "sem função"... . E, na verdade, o eucalipto, coitado, continua querendo o que sempre quis, o que foi oferecido a ele no primeiro momento - água - só que agora , problema resolvido, parece que ele é o intruso, ocupando espaço, querendo tirar mais e mais água do jardim.
Melhor não, melhor não envolver outros seres enquanto aqui for "quase pântano" . Deixa que eu mesmna carrego meus baldinhos, abro canaletas e deixo entrar o vento...

(A ilustração de "O menino do Rio Doce", livro lindo, lindo do Ziraldo, é um dos bordados das irmãs Dummond)

Tuesday, September 06, 2005

...

"llovía como si saliera la lluvia
por primera vez de su jaula"

Pablo Neruda

gringo no Segundas Intenções

Ontem estava conversando com um gringo que está a trabalho por aqui e desacreditei quando ele disse que todos - veja bem, TODOS!! - motoristas de taxi oferecem esquemas de garotas de programa para ele... Fiquei tão deprê - sei lá, uma certa sensação de derrota...
Não que eu ignore o fato - nem que recrimine a profissão!! - o que me incomoda é essa perpetuação do turismo sexual... Lembro quando eu trabalhava no Nordeste - Fortaleza, princípalmente, era muito gritante... principalmente o lance de crianças - aí sim, coisa mais triste do mundo!


Bom - desabafo feito, levamos o coitado no Segundas Intenções (onde mais?!?) - engraçadíssimo!!
Rolou um especial só com músicas do Roberto Carlos - com certo constrangimento, me peguei sabendo cantar quase todas!! O show foi um pouco longo, tenho que admitir, mas a baladinha na sequência compensou... dançar é mesmo uma das melhores coisas desta vida!!
Apesar de estar bem inteira (e de, tecnicamente hoje ser sexta-feira), sinceramente, hoje eu gostaria de ser uma pessoa que toma café...

Monday, September 05, 2005

Pouca Luz, Muita Luz


Pelas frestas, pouca luz parece assombração.
- Edith Dirdyk -

Deve ser por isso que meus relacionamentos sempre me assustaram tanto...



Mas daí eu olho para essas florzinhas, sorrindo pra mim, aqui na minha mesa e dá uma vontade de trazer mais luz prá cá...

Por isso...
junto com essa gravura do Goeldi - toda escuridão - (valeu a dica, Ana!!) fica aqui também Império das Luzes, do Magritte, meu quadro preferido, desde que eu me lembro de gostar des quadros ( onde, entre outras belezas, essa co-existencia, tão harmônica!, de luz e escuridão, que até permite a gente aceitar um pouco mais essas contradições todas, co-habitando a alma...)

quem manda nos sonhos?


A cabeça das pessoas funciona mesmo de uma forma muito peculiar...
(e, obviamente, estou falando de mim!!!)
Eis que, de sábado pra domingo, depois de maior noite gostosa, queijos, vinhos e conversas delícia eu tenho um MEGA pesadelo... nada de monstros, sequestros ou minha cama caindo pela janela ( eu sempre tinha esse, quando era pequena!!) - só meu passado me assombrando...
Acordei super de mal humor (o que é muito raro!!)...
Daí, ao invés de eu ficar brava comigo, por permitir que pessoas surgissem no meu sonho fazendo um monte de bobagens e, além disso, que um sonho minasse minha manhã de domingo, fiquei indignada com tamanha ousadia, re-surgir assim, do nada...
Enfim... nada que uma meia hora de corrida no parque + almoço delícia + conversas e risadas a tarde toda não tenham resolvido...

--> O tal almoço foi no Fillipa, dos mesmos donos do Mestiço - recomendo o Camarão no Gengibre e Pimenta Rosa com Coucous Marroquino, muito, muito bom!! Melhor ainda a preparação dos drinks, super no capricho...
Tomei uma caipira de Melância e Gengibre inventada na hora, tudo de bom!! ...
--> Imagem de Howard Finster

Sunday, September 04, 2005

Sentimentos sem nome

O que é, o que é?

Se recebo um presente dado com carinho por uma pessoa de quem não gosto - como se chama o que sinto? Uma pessoas de quem não se gosta mais e que não gosta mais da gente - como se chama essa mágoa e esse rancor? Estar ocupado e de repente parar por ter sido tomado por uma desocupação beata, milagrosa, sorridente e idiota - como se chama o que sentiu? O único modo de chamar é perguntar: como se chama? Até hoje só consegui nomear com a própria pergunta. Qual é o nome? e este é o nome.

- Clarice Lispector -

E querer bem a alguém que te machucou bastante? Ou quando alguém te faz um favor, que acaba mais atrapalhando que ajudando? Ou quando algo que você já quis tanto agora está lá, ao alcance da mão, só que você não quer mais? Ou quando, do nada, surge algo que parece desenhado pra você, mas antes que você tome posse, isso já tem outro dono? Ou ouvir tudo o que você gostaria de ouvir - só que não de quem você gostaria de ouvir? Ou essa "culpa" por, sem querer, ter desencadeado sentimentos/ações/reações sobre as quais agora não se tem controle? Ou aquele "constrangimento" por ter incentivado algo que não deu certo ou que acabou trazendo mais tristeza?

Eu, que andava tão serena, hoje estou toda inquietação...

Friday, September 02, 2005

Alegria Mansa

Pois a hora escura, talvez a mais escura, em pleno dia, precedeu essa coisa que não quero sequer tentar definir. Em pleno dia era noite, e essa coisa que não quero ainda tentar definir é uma luz tranqüila dentro de mim, e a ela chamariam de alegria, alegria mansa. Estou um pouco desnorteada como se um coração me tivesse sido tirado, e em lugar dele estivesse agora a súbita ausência, uma ausência quase palpável do que era antes um órgão banhado da escuridão diurna da dor. Não estou sentindo nada. Mas é o contrário de um torpor. É um modo mais leve e mais silencioso de existir.
Mas estou também inquieta. Eu estava organizada para me consolar da angústia e da dor. Mas como é que me consolo dessa simples e tranqüila alegria? É que não estou habituada a não precisar de consolo. A palavra consolo aconteceu sem eu sentir, e eu não notei, e quando fui procurá-la, ela já se havia transformado em carne e espírito, já não existia mais como pensamento.
Vou então à janela, está chovendo muito. Por hábito estou procurando na chuva o que em outro momento me serviria de consolo. Mas não tenho dor a consolar.
Ah, eu sei. Estou agora procurando na chuva uma alegria tão grande que se torne aguda, e que me ponha em contato com uma agudez que se pareça com a agudez da dor. Mas é inútil a procura. Estou à janela e só acontece isto: vejo com olhos benéficos a chuva, e a chuva me vê de acordo comigo. Estamos ocupadas ambas em fluir. Quanto durará esse meu estado? Percebo que, com essa pergunta, estou apalpando meu pulso para sentir onde estará o latejar dolorido de antes. E vejo que não há o latejar da dor. Apenas isso: chove e estou vendo a chuva. Que simplicidade. Nunca pensei que o mundo e eu chegássemos a esse ponto de trigo. A chuva cai não porque está precisando de mim, e eu olho a chuva não porque preciso dela. Mas nós estamos tão juntas como a água da chuva está ligada à chuva. E eu não estou agradecendo nada. Não tivesse eu, logo depois de nascer, tomado involuntária e forçadamente o caminho que tomei - e teria sido sempre o que realmente estou sendo: uma camponesa que está num campo onde chove. Nem sequer agradecendo a Deus ou à natureza. A chuva também não agradece nada. Não sou uma coisa que agradece ter se transformado em outra. Sou uma mulher, sou uma pessoa, sou uma atenção, sou um corpo olhando pela janela. Ela é uma chuva. Talvez seja isso que se poderia chamar de estar vivo. Não mais que isto, mas isto: vivo. E apenas vivo é uma alegria mansa.


(Clarice Lispector, - quem mais poderia ser?- in A Descoberta do Mundo)

Start clean slated

Least Complicated
(Song by Indigo Girls)

I sit two stories above the street
It's awful quiet here since love fell asleep
There's life down below me though
The kids are walking home from school


Some long ago when we were taught
That for whatever kind of puzzle you got
You just stick the right formula in
A solution for every fool


But I remember the time when I came so close to you
I let everything go, it seemed the only truth
And I bought you that ring, it seemed the thing to do.
What makes me think I can start clean slated
The hardest to learn was the least complicated


(...) It's more than just eye to eye

Learn the things I could never apply

Oh, I'm just a mirror of a mirror of myself
All the things that I do
The next time I fall I'm gonna have to recall
It isn't love it's only something new

Thursday, September 01, 2005

pushing the edge

Sabe quando você se depara com uma situação que te coloca prestes a dar um passo maior que a perna?
Dai você pára, pensa duas vezes (meia vez? hahaha) e vai assim mesmo...
E descobre que sua perna é bem maior que você imaginava...
e àquele passo se sucede outro, e outro, e outro...

(e então um mundo de outras possibilidades se abre...)

Janela sobre o corpo


A Igreja diz: O corpo é uma culpa.
A ciência diz: O corpo é uma máquina.
A publicidade diz: O corpo é um negócio.
O corpo diz: Eu sou uma festa.

Eduardo Galeano

Fazendo da jaca minha pantufa...

Caraca - às vezes até eu me espanto comigo!

( e dá-lhe Neosaldina!!! )