Friday, September 23, 2005

Reforma da Casa IV - Manual de sobrevivência

Durante a reforma, prudente manter distância. Menos pelo bem da reforma, mais pela preservação de si. Estão sendo derrubadas paredes inteiras e, enquanto janelas e afins são retiradas com cuidado (para serem re-colocadas em outros ângulos ou encaminhadas para outros destinos) muita coisa vai ao chão à marretadas e estilhaços são inevitáveis...

Alguém pode decidir, por sua própria conta e risco, atravessar o cordão de isolamento.
Perigo, perigo!!! Na casa em reforma, visitas são pouco bem vindas. Seria como entrar no banheiro enquanto o outro de despe - algo que só se faz com muita certeza da intimidade, do convite implícito. E, se tapumes fecham as aberturas todas, não há um convite implícito.
Na casa em reforma, só é bem vindo quem está trabalhando na reforma. E esta casa em reforma não está admitindo outros trabalhadores... ou mesmo visitas...
Olhares curiosos são dispensáveis. Perguntas sobre os rumos da reforma são dispensáveis.
Por encher todo o interior de pó e barulho, a casa em reforma pede ar e silêncio, espaço e tempo.


E, porque o projeto de reforma não está completamente definido ( e, graças aos céus, não estará nunca!!!) , querer saber o que esperar no fim da reforma é pecar contra o direito de mudar de idéia. Porque a casa em reforma quer inventar-se ao longo do caminho, decidir que aqui fica bem uma janela, lá uma porta, uma claraboia... mas não se comprometer com essa janela. E nem quero que saibam ( se é que eu sei!) a dimensão, localização... Porque quando isso acontece, inevitavelmente, por querer participar da reforma, contribuir, enfim, por excesso de carinho, surgirão, por exemplo, cortinas de presente. Acontece que, ter essas cortinas pode impedir, por exemplo, que a janela resolva abrir para dentro. Ou que a janela tenha o dobro do tamanho. Ou a metade. Ou que o sol deva poder atravessar essa janela o dia todo. Ou que seja ainda muito cedo para colocar o suporte da cortina - talvez as paredes, tão novinhas, ainda não aguentem... ou talvez, simplesmente, já exista em mente uma cortina diferente desta ganha... E não é justo exigir da casa em reforma que se adeque à cortina que alguém idealizou para ela. Até porque, cortinas passam...

Importante, importantíssimo: Esta é uma casa em reforma e não uma casa em ruínas - ninguém está precisando ser "salva"...

Aquele que decidir entrar na casa em reforma não deve esperar uma recepção calorosa, como se fosse o príncipe da bela adormecida que atravessou a floresta para salvar a princesa de seu sono profundo. Não pode portanto se ofender se for recebido com uma certa hostilidade - "que absurdo! enfrentei a floresta de espinhos para te visitare é asim que você me recebe?". Que fique claro - há uma intenção de manter um certo isolamento e, quem decidir que sua vontade de entrar é soberana à vontade de não receber visitas, não espere gratidão... Quem insiste em entrar, apesar dos avisos todos, dos pedidos todos, entra para satisfazer seus anseios (mesmo que por excesso de carinho, cuidado, o que quer que seja....) e não por um ato de extrema bondade, desprendimento, coragem e cuidado.

E, se você for convidado entrar um pouquinho, é para dar uma olhada e não se instalar de mala e cuia - uma casa em reforma não comporta hóspedes! Se for convidado a dar um palpite, por exemplo, sobre o piso da sala ou o local da rede, resista à tentação de querer definir também onde vai a lareira, qual a cor dos estofados...
Me dê o tempo e o espaço para que eu possa pedir a sua opinião e receber seu conselho como quem recebe um presente e não como quem enfrenta uma invasão.
Porque é preciso poder não precisar levar em conta palpite algum - assim se o telhado desabar de repente, não vou culpar ninguém, a não ser a mim mesma pelo dano. E é também por isso que eu preciso que ninguém fique embaixo enquanto eu não estou segura em relação a este telhado... Quero que cada detalhe seja responsabilidade minha, seja fruto das minha decisões e dedicação. Quero para mim todas as culpas e todos os méritos (como dá para perceber, alguns alicerces não mudam...).
E, também, porque, apesar da seriedade deste "manual de sobrevivência", este é um momento tão leve, tão alegre - a casa vai sendo reformada em meio a tanta cantoria.... !

Porque, mais que tudo, a casa depois de reformada pretende ser um presente e uma surpresa.
E, quando houver a inauguração, quem for convidado vai encontrar um espaço cheio de aconchegos. E aí sim, eu garanto uma recepção calorosa, convites para passar temporaradas e muitos daqueles eventos que eu gosto tanto de organizar...
Então, por favor,só por enquanto, fiquem longe dos escombros...
Eu preparei um jardim tão bonito para vocês aproveitarem a espera...

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