Thursday, February 23, 2006

Contra o Mal olhado eu carrego meu patuá...

Então numa quarta feira, parece que minha energia foi tirada com a mão.
E eu sem saber o que fazer para me sentir melhor, encontro o que fazer para me sentir piro...
Então vasculho o presente de dragões do passado até ameaçar voltar a doer... talvez para ter certeza que a cicatrização está bem feita, talvez para assustar na eminência de criar outro Dragão, talvez para saber que já criei couro o suficiente para me lançar de novo...

Muito porque eu odeio não saber a origem do que eu sinto - então preciso encontrar um motivo para minha tristeza. Porque aí eu tenho pistas de como resolver.

Mas, muito mais provavelmente, porque conheço meu fôlego e sei que nada me adianta permanecer no meio da coluna d´água, tentando subir, enquanto sei-lá-o-que me empurra para baixo... então é força pra descer, impulso no fundo e força pra subir.

E volto à tona, de alma lavada, sensação boa de depois 8 km de corrida, alívio e cansaço.
Tranquilidade de ser dona das minha escolhas, das minha tristezas até! e de conhecer os antídotos para os venenos que onheço os antídotos para muitos dos venenos que me servem e dos quais eu me sirvo, quando não aguento ser feliz por inteiro.

Tuesday, February 21, 2006

Vista da Janela

Nada mal para quem gosta de janelas como eu...

Enfim, quase completamente "instalada", o esforço agora é todo de "concentrar-me".

Nada a ver com "atenção focada para a resolução de problemas" e sim uma unificação de centros... Porque passei anos e anos me espalhando por muitos lugares e me dividindo entre muitas pessoas e agora preciso me reunir em mim mesma, resgatar minhas coisas nas casas todas, continuar escolhendo a dedo as pessoas que quero em volta.
E revirar os guardados força a olhar para trás, digerir o que foi engulido a seco (sapos, principalmente), re-plantar sementinhas esquecidas (algumas, escolhidas a dedo também).
E com saudade e alívio, me despeço de tanta, tanta coisa que quase não sei como lidar com essa leveza súbita....

"Quando penso no que já vivi me parece que
fui deixando meus corpos pelos caminhos"

(Clarice Lispector)

A intenção é de "con-centrar", mas não de fixar o centro.
Nem de eliminar órbitas... quero apenas "orquestrar" melhor esses caminhos para compor um móbile mais harmônico, com órbitas menos alucinadas e aleatórias, sei lá, algo que lembre um pouco "anéis de saturno" ( licença poética total - não entendo nada da natureza dos anéis de saturno...).

O importante é que estrelas cadentes continuarão bem vindas. Sempre bem vindas.
E brisa, para fazer o centro velejar e o móbile balançar com graça...

Wednesday, February 15, 2006

Como é que pode estar tão feliz e tão confusa?
Tão serena e tão aflita?
Com tanta saudade e querendo tanto ficar sozinha?

Preciso não ter que ir a lugar nenhum, nem receber ninguém, nem falar muito.

Preciso poder passar o dia de pijama, arrumando as coisas, escolhendo o que e onde guardar.
E - importantíssimo - o que jogar fora.

Preciso não ter que me arrumar para sair, nem arrumar a casa para receber visitas - para poder me arrumar para ficar em casa.
Preciso desesperadamente de tempo.
Mais que isso, preciso de tempo contínuo.

Estou feliz - o que faz todo e nenhum sentido.
Passou o surto da sexta, mas não soube fazer companhia na segunda.
Depois da fase de gengibre, entro numa fase completamente Alecrim.
E talvez seja sábio incluir um pouquinho de arruda, que nunca é demais.

these are multiple shadows because there were a lot of things she walked away
from without a word of explanation when she was younger & she still thinks
about them more than she needs to

Brian Andreas

Saturday, February 11, 2006

Caixa de Pandora

Sem querer (!?!?!?!) mandei a msg da minha casinha nova para uma lista de E-mail maior que eu tinha a intenção.
E ela foi parar na Venezuela.
E hoje chegou a resposta.
E eu não consigo fazer nada, nem ao menos decidir o que fazer.
O impulso inicial é escrever, responder correndo, mais doce do que devo, esquecendo o tamanho do precipicio.
Por outro lado, tentação de acreditar que não é mais um precipício... e lembro de, quando tudo foi esmorecendo, eu brava porque com esse final tosco não havia como manter contato e afinal eu o achava joia o suficiente para querer manter como amigo.
Será?
Quem você está tentando enganar, Dona Juliana?
Você mal dá conta dos seus amigos - reais, próximos, queridos - será genuino mesmo este impulso de amizade?
Quanto tempo mesmo você manteve suas estórias de pano de fundo? Dos 14 aos 21, dos 18 aos 22, de 21 aos 24 anos... Quantas estórias você foi capaz de arrastar em paralelo nesses anos todos? Que usou de desculpa pra não se envolver de verdade com ninguém?
E quantas portas entreabertas você fechou nos últimos meses? E a que custo?
Foi pra isso que você passou o coração a limpo?
Pra isso esse empenho em resolver todos os mal entendidos, colocar cada pessoa em seu lugar, se despedir de tanta gente pra sempre?
Que aflição um simples e-mail ainda conseguir fazer o coração sair pela boca, me deixar transtornada a ponto de não conseguir fazer nada direito esta manhã...
Então estou aqui, escrevendo loucamente, um pouco para vocês me "vigiarem", muito para conter o impulso de responder o e-mail.
É como se durante muito tempo eu tivesse desejado ter ,sei lá, uma bicicleta, onde pude, no máximo,dar algumas voltinhas.
E agora ela está ali, na minha frente.
Muito provavelmente, de novo, só para eu dar umas voltinhas.
Mas ela ali faz com que eu queira acreditar que está ali pra mim e esqueça que ela não será minha nunca.
E esqueça que, a esta altura do campeonato, eu não quero porcaria de bicicleta nenhuma...
Eu e meu eterno vício de alimentar Dragões.
E, depois de um período razoável de abstinência, aqui estou eu frente a frente com meu vício.
Como um suicida que observa o armário onde estão as armas..
Preciso - muito - saber me aguentar - ou para quem pedir ajuda.
Porque na última vez que eu me confessei suicida, assisti um amigo afiar, ostensivamente, as facas que eu usava pra me mutilar.
Preciso sair do computador, preciso ao menos me afastar da caixa de pandora.
Até porque, com a faxina que andei fazendo, tem muito espaço para ser ocupado pelo interior dessa caixa...
Ainda bem que é sexta, tenho um casamento para ir, uma casa pra cuidar, amigos pra receber...

Wednesday, February 08, 2006

Fase de muda

Janeiro foi um mês dos mais quietos - mesmo o reboliço interno foi silêncioso...
Só saí de casa para estar com pessoas que muito, absurdamente queridas. ( ou extremamente insistentes!)
Até a epopéia dermatológica contribuiu para a reclusão...
Minha total falta de disposição para conversas sobre o Harry Potter e afins fez com que eu escolhesse simplesmente me abster de algumas conversas. Afinal, o que responder quando se escuta "o carinho dos pais é fundamental para os bebês"? tipo do comentário não ilumina uma idéia, não emite uma opinião, não faz rir, não inicia um assunto, não muda o jeito de pensar... o que não quer dizer que só existe espaço para conversas sérias e densas... a bobeira pura e deliberada é mais que bem vinda... o que me incomoda é o senso comum dito como uma pérola de sabedoria (à la "férias são importantes para resgatar a criança que temos em nós"), que não agregam nada, simplesmente marcam território...
E tudo isso, e outras coisas, e o manejo de espinhas alucinadas... pouquíssima vontade de estar com as pessoas e simultânea saudade de estar com as pessoas. Um quase emputecimento com convites que eu não sei recusar e que fazem com que eu me sinta menos dona do meu tempo...
Ainda bem que tem sempre um olhar de fora ajudando a pensar: fato é que eu não estou acostumada a não querer muito estar com as pessoas.
Então me sinto culpada. E pouco amiga.
Como se fosse um crime precisar de tempo pra se(me) juntar.
Eu que insisto em repetir que ninguém tem obrigação de ser feliz e radiante 100% do tempo, demoro a aceitar que não sei ser 100% amiga 100% do tempo.
Como se fosse possível se dar estando pouco inteira.
Enfim...
Precisei sumir um pouco.
Preciso ainda.
Preciso saber que vocês estão aí para quando eu voltar. Porque, desta vez, sou eu que preciso que não desistam de mim.
Que eu tenho essa felicidade latente ,mas tão frágil que quase deixa de ser quando falo nela - e por isso eu guardo.
Porque o semestre passado foi de muita exposição - porque eu precisava de ar e sol pra secar feridas - e como tinha formado "casco", podia me expor.
Agora, em fase de muda, vulnerável, vulnerável, precisei ficar quieta.
Que importante ter uma casa pra me sentir segura pra abandonar couraças, trocar de pele ( mais literalmente impossível!!), despir a armadura que antes protegia mas passou a limitar movimentos mais interessantes e espontâneos.
E que medo! de virar meio eremita, de me apegar a esta vulnerabilidade, como me apeguei à armadura, de deixar passar tempo demais, de deixar passar.
Por isso o convite apressado, metendo os pés pelas mãos, convidando, meio sem convidar, visitas.
Porque, mesmo que neste momento me incomode, preciso que apareçam os convites, preciso que me lembrem que há vida lá fora que eu preciso deixar de ser "gato escaldado".. porque, como boa caranguejeira antes da muda, fiz uma trincheira de pelos urticantes que eu terei que recolher em algum momento, porque visitas chegam, do outro lado do oceano, este final de semana mesmo, fezendo bem espero...

Tuesday, February 07, 2006

ai,ai,ai...

Tudo tão bem, epopeia da pele quase no fim...
Como explicar o surto no homeopata ontem?
E foi realmente um surto - estava ótima indo para lá, cantarolando pelas ruelinhas da vila...
Foi só entrar na sala e consolidar o mês de janeiro pra desbaratinar tudo... como se eu olhasse para dentro e estivesse tudo um pouco embaçado. Como se eu assistisse um rodamoinho, naquela aflição que, do nada, ele tragasse para dentro o meu móbile encantado.
Catarse feita, homeopata assustado ( e emputecido/ desolado por eu ter tomado antibiótico!!), sai de lá, de novo, ótima, cantarolando pelas ruelinhas da vila...
Vai entender...

Friday, February 03, 2006

Simplesmente

02 de fevereiro - dia de Yemanjá.
Fui ao Obá onde estava rolando um cardápio especial e um barquinho coletando pedidos que serão levados ao mar neste final de semana...
Surpresa: não sei o que pedir. Não porque eu queira muitas coisas - exatamente pelo contrário: não quero nada.
O que me causa estranhamento - não ando exatamente eufórica, portanto deveria ter tonaladas de pedidos na manga.
Mas não.
Engraçado como as vezes a gente precisa de coisas assim prar constatar que está simplesmente feliz.
Então pedi simplesmente pra saber aproveitar esse momento, móbile sereno de alegria calma.
Pra saber manejar o meu apego a este móbile, meu pavor de qualquer coisa que bagunce este o equilíbrio tão frágilmente orquestrado.
Pra saber não deixar minha familiaridade/ saudade de tormentas e vendavais acabar criando tempestades em copos d´água.
Pra saber continuar, simplesmente, feliz.

Wednesday, February 01, 2006

à la carte

Escolhia seus amores como quem escolhe filmes na locadora... de acordo com o mood do momento, por sinergia com o que estava passando por dentro ou, ao contrário, para preencher o que vinha fazendo falta...
As vezes, um filme pra chorar bastante- porque carecia de uma justificativa para aquela tristeza meio intrínseca, ancestral mesmo. As vezes, estórias das mais complexas: matéira prima para um pensar profundo; outras, leves, leves, pra ajudar a não pensar. De vez em quando, tudo tão denso e confuso e pesado que, por contraste, capaz de resgatar a sensação de que a vida é mansa ( mesmo que só depois de findo o filme...). Um cena mais tórrida hoje, um diálogo mais sensível amanhã, um cenário bonito mais exótico pra fazer sonhar, ou um sotaque, outros temperos e cores...Wood Allen de vez em quando, pra rir da própria neurose, Almodovar além do saudável - sabe-se lá porquê, as vezes mais por hábito mesmo, por só reconhecer o estilo quando quase no meio da cena, pra não frustrar espectativas, por não saber outros roteiros...
Com o tempo, foi virando um pouco prisioneira de sua própria filmografia... incapaz de se contentar com algo mais "agua-com-açúcar", mais bobinho, mais Spielberg...
E foi incorporando esse jeito de querer pinçar estórias específicas, conduzir o enredo, ter o controle sobre plays e stops e fast-forwards... como se fosse ao mesmo tempo a roteirista, protagonista e espectadora- e portanto responsável pelo destino de todos os personagens, por todas as consequências, todas as escolhas, todas as não-escolhas..E se surpreende quando os outros personagens - meros coadjuvantes dos dramas internos - ganham vida e vontade própria, improvisando, fugindo do script ( ou da cena, ou do filme...) E se enche de culpa quando o roteiro interfere demais nos caminhos desses outros atores, e se sente burrra ( e frágil, e vulnerável e patética) quando permite que interfiram no seu roteiro.
Mas... cansou de ser Carmem Maura, sabe que não sabe ( e tem quase certeza, não quer, apesar de parecer mais fácil) ser Meg Ryan.
Sabe que apesar dos momentos Amelin que povoam seus roteiros, não é Amelin.
Nem Frida.
Não quer mais dirigir filme algum, também não sabe delegar a direção. E nunca soube compartilhar a condução de caminho algum... Então retorna à locadora e se pega sem saber que filme escolher - porque a bem da verdade, não quer filme nenhum.
Cansou dos atores de sempre, não está muito disposta admitir outros, cansou da responsabilidade (imáginátia, mas enfim!) pelos destinos, cansou de pensar em roteiros...


Até que se depara com "Sob o Sol de Toscana"...