Wednesday, February 01, 2006

à la carte

Escolhia seus amores como quem escolhe filmes na locadora... de acordo com o mood do momento, por sinergia com o que estava passando por dentro ou, ao contrário, para preencher o que vinha fazendo falta...
As vezes, um filme pra chorar bastante- porque carecia de uma justificativa para aquela tristeza meio intrínseca, ancestral mesmo. As vezes, estórias das mais complexas: matéira prima para um pensar profundo; outras, leves, leves, pra ajudar a não pensar. De vez em quando, tudo tão denso e confuso e pesado que, por contraste, capaz de resgatar a sensação de que a vida é mansa ( mesmo que só depois de findo o filme...). Um cena mais tórrida hoje, um diálogo mais sensível amanhã, um cenário bonito mais exótico pra fazer sonhar, ou um sotaque, outros temperos e cores...Wood Allen de vez em quando, pra rir da própria neurose, Almodovar além do saudável - sabe-se lá porquê, as vezes mais por hábito mesmo, por só reconhecer o estilo quando quase no meio da cena, pra não frustrar espectativas, por não saber outros roteiros...
Com o tempo, foi virando um pouco prisioneira de sua própria filmografia... incapaz de se contentar com algo mais "agua-com-açúcar", mais bobinho, mais Spielberg...
E foi incorporando esse jeito de querer pinçar estórias específicas, conduzir o enredo, ter o controle sobre plays e stops e fast-forwards... como se fosse ao mesmo tempo a roteirista, protagonista e espectadora- e portanto responsável pelo destino de todos os personagens, por todas as consequências, todas as escolhas, todas as não-escolhas..E se surpreende quando os outros personagens - meros coadjuvantes dos dramas internos - ganham vida e vontade própria, improvisando, fugindo do script ( ou da cena, ou do filme...) E se enche de culpa quando o roteiro interfere demais nos caminhos desses outros atores, e se sente burrra ( e frágil, e vulnerável e patética) quando permite que interfiram no seu roteiro.
Mas... cansou de ser Carmem Maura, sabe que não sabe ( e tem quase certeza, não quer, apesar de parecer mais fácil) ser Meg Ryan.
Sabe que apesar dos momentos Amelin que povoam seus roteiros, não é Amelin.
Nem Frida.
Não quer mais dirigir filme algum, também não sabe delegar a direção. E nunca soube compartilhar a condução de caminho algum... Então retorna à locadora e se pega sem saber que filme escolher - porque a bem da verdade, não quer filme nenhum.
Cansou dos atores de sempre, não está muito disposta admitir outros, cansou da responsabilidade (imáginátia, mas enfim!) pelos destinos, cansou de pensar em roteiros...


Até que se depara com "Sob o Sol de Toscana"...

1 Comments:

Anonymous Anonymous plantou esta semente...

as vezes vale a pena pegar uns filmes às cegas... e assistir/participar sem expectativas ou grandes responsabilidades pela escolha...

2:27 PM  

Plante sua semente