Saturday, November 26, 2005

Correspondências

Ando completamente enlouquecida com livros de correspondências...
Comecei com 2 – o da Tarsila que eu já comentei aqui e o "Cartas perto do coração", de Clarice Lispector e Fernando Sabino, presente muito querido, que fez inclusive com que eu re-descobrisse o Fernando Sabino, paixão das mais recentes.
Engraçado esse lance de cartas – eu tenho muitas guardadas, a maioria da época do colegial, jeito encontrado para matar as saudades quando voltei para SP deixando os amigos mais queridos em São José. Tive também um amigo que só conheci por cartas – apresentado por um amigo comum, fez parte da minha vida durante 4 anos e 19 cartas – faz parte ainda, em sutilezas de quem fui virando, em jeitos de pensar que eu não teria tido sozinha, na altura dos meus 15, 16 anos. Quando descobri que ele tinha se encantado, apesar de não ter tido contato há anos, senti a perda como a de um grande amigo – porque, sim, ele foi um grande amigo.

A fase do intercâmbio, então, foi a mais rica em "correspondências" – algumas pessoas ficando tão mais amigas assim a distancia – e na volta uma sensação boa de algo consolidado. Em outros casos, o silêncio de um ano fez com que a amizade ou o que quer que fosse permanecesse igual, latente, e ao voltar, sentimento igual em cenário diferente, causando tanta, tanta confusão... (ups, isso é outra estória...)
Enfim, coisa engraçada era receber v
árias cartas de pessoas do mesmo grupo, contando versões meio diferentes das estórias, me ajudando a compor meio um mosaico do que se passava do lado de cá. E, contando só com o snail-mail, as notícias que chegavam já estavam quase sempre meio ultrapassadas... Do meu lado, então, nem se fala: fervilhando aos 17 anos, sempre que enviava uma carta já precisava ir outra na seqüência “des-dizendo”, complementando, mudando os rumos...e quando eu voltei de lá, deixando namoradinho, meu maior panico era que cartas com “saudade” se cruzassem no caminho com respostas de “melhor a gente continuar só amigo” – medo que persiste em mim, mesmo sabendo que o delay dos correios e a distância só escancara (e torna mais tangível e patético..) os descompassos que acontecem mesmo é dentro das pessoas. Aliás, o maior problema é mesmo esse delay interno, a enrolação para deixar claro para os outros que a página esta sendo virada...

Voltando às cartas... outro dia um amigo dizia que o E-mail suicidou o hábito de escrever cartas. Isso é e não é verdade – tenho recebido as cartas mais adoráveis por E-mail, mas isso quando são mesmo escritas com o cuidado com que se escreve cartas, não com a rapidez com que se escreve e-mails. É preciso ter o cuidado de deixar a carta dormir um pouquinho nos “drafts”, e antes de mandar, reler, estudar palavra por palavra, mudar a ordem das frases... Também receber estas cartas é diferente... sem envelope para abrir e papel para desdobrar, o que reserva uns segundos para nada além de pensar com carinho na pessoa, com sorriso inevitável. Sem a letra manuscrita, o carimbo ajudando a imaginar o caminho que a carta percorreu, o amigo indo até o correio, corre-se o risco de banalizar a correspondencia. É por isso que eu quando recebo uma carta dessas, espero alguns segundos antes de abrir a mensagem, só mesmo o tempo da ternura tomar conta. Depois, confirmado que se trata de uma carta, não leio logo não – seguindo a sugestão do Luiz, mando imprimir, preparo um chá e só então, efetivamente recebo a carta, como quem recebe um presente – porque é um dos melhores presentes.

Mas, se os e-mails ainda perdem bastante para as cartas “de antigamente” tenho que admitir que falar no MSN com web cam ganha de lavada do telefone. Aliás, ganha até mesmo de falar no skipe com camera. Não sei se é porque eu nunca fui super fã de telefone ou se sou mesmo muito apaixonada pela palavra escrita... o fato é que, assistir a outra pessoa escrevendo – “a boca tramando um gosto” - e ver brotar as reações/sorrisos que você semeou do lado de cá enquanto o outro lê é impagável!!! Único porém é que não diminui em nada a saudade, pelo contrário, fica sempre faltando ainda mais um abraço...

Nossa – tudo isso simplesmente pra dizer que eu acabei de comprar meus presentes de Natal para mim mesma: 5 livros com as correspondências de Caio Fernando Abreu, Clarice Lispector, Mario de Andrade, Fernando Sabino, Drummond e Oswald de Andrade.

Quem tiver outras sugestões, please, be my guest...

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