Wednesday, August 31, 2005

Entrelinhas

Mas já que se há de escrever, que ao menos
não se esmaguem com palavras as entrelinhas.

- Clarice Lispector -

Eu queria saber ser menos literal - colocar um texto aqui e pronto. E deixar mais solto, com mais frestas, enfim, a cargo de cada um criar a sua própria interpretação - e me expor menos, também. Mas não consigo - aliás, nem sei se quero. Sei lá se é síndrome de professora, essa necessidade de ir explicando tudo (ou de tirar lições de tudo, o que pode ser ainda mais nocivo...) mas o fato é que, conforme eu leio ou vivo algo, já vai se encadeando um pensamento todo cheio de parênteses, ganchos e desdobramentos...
Se antes esses devaneios se contentavam em vagar meio sem rumo - no máximo ancorar em páginas de caderno ou em E-mails para amigos mais sensíveis, agora esses pensamentos parece que sabem que podem aportar por aqui, então, ao invés de se dissiparem no ar, eles vão se arrobustando, criando vida quase própria e exigindo um pedacinho de chão para fincar raízes...
Enfim - não vou lutar com isso (a gente já tem que lutar com tanta coisa, o tempo todo, sempre!) - e portanto ficam os textos e aquelas ressonâncias mais teimosas...


E eu simplesmente confio que quem visita esse meu jardim gosta de mim o suficiente pra perdoar arroubos mais espontâneos e esse meu jeito de ir emendando um assunto no outro, comendo uma letra ou uma palavra aqui, outra ali, abrindo parênteses dentro de parênteses, enchendo tudo de reticências...

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